quinta-feira, 13 de março de 2008
Acontece: ROLLING STONE
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http://www.rollingstone.com.br/materia.aspx?idItem=1955&titulo=Cara+Estranho%2C+M%C3%BAsica+Esquisita&Session=Acontece
Revista > Edição 18 > Março 2008 > Acontece
Cara Estranho, Música Esquisita
Márcio Cruz
Com sotaque e deboche, Diego de Moraes mistura tropicalismo, Bob Dylan e Walter Franco
Na primeira noite do festival Goiânia Noise 2007, Dona Maria Helena de Moraes Campos teve de adiar a entrega de algumas encomendas de salgadinhos e deixar Senador Canedo (cidade-dormitório a uma hora da capital goiana), para acompanhar a apresentação musical de seus filhos. Diego de Moraes já tem 22 anos, mas sua irmã, Fernanda de Moraes, que faria uma participação fazendo barulhinhos com a boca, tocando percussão e bateria em “Todo Dia”, tem apenas 14.
“Minha mãe é minha heroína”, se derrete Diego, que compôs a maioria das músicas disponíveis na página no MySpace quando ainda tinha 18 anos. Figura mirrada de estatura pequena, cabelos curtos, Diego guarda uma curiosa semelhança com Hélio Flanders, vocalista e principal compositor do Vanguart. Como Flanders, uma de suas principais influências é Bob Dylan. Outra coincidência é que Moraes nasceu em Cuiabá, cidade natal do Vanguart, mas, enquanto a banda cuiabana tem melodias por vezes melancólicas, a linha escolhida por Moraes é o deboche. “Fora Cuiabá, o violão e a nossa feiúra, nosso universo é bem diferente”, brinca. A diferença aparece cifrada em canções como “Música Estranha”, talvez a mais tropicalista do EP Reticências (2007), unindo guitarras distorcidas, órgão, coro gritado e assobios de bonecos de borracha: “Essa não é música para tocar no elevador/ Não é música pra todo mundo cantar o refrão/ É minha música/ Minha vida/ Seja lá o que for/ Música pessoa/ Para pessoas esquisitas”. E não pára por aí. Outras influências (conscientes ou não) passam por Walter Franco, Ramones, Beck e Luis Tatit – este último ele diz escutar com freqüência atualmente. Durante a apresentação no Festival Bananada 2007, Diego revelou fortes ligações com a vanguarda paulistana liderada por Itamar Assumpção e Arrigo Barnabé no início dos anos 80. A voz doce e o jeito frágil escondem uma outra faceta. Moraes é agitador da cena de Senador Canedo, onde tenta convencer os grupos locais a criarem sua própria música em vez de fazerem apenas covers. “As bandas que mais chamavam atenção eram aquelas que já tocavam algo pronto.”
As canções de Diego, tanto na vertente que mistura experimentalismo e moda de viola (sozinho ou ao lado da irmã) como pela faceta elétrica acompanhado da banda O Sindicato – Eduardo Kolody (guitarra), Gabriel Cruz (percussão), Rogério Pafa (bateria), Anderson Maia (baixo e sintetizador), Danilo Teles (baixo e guitarra), Fernanda de Moraes (gaita, percussão e bateria) –, já lhe garantiram prêmios. Entre eles, 12 horas de gravação no estúdio da Trama e a participação no último Goiânia Noise.
Em “Neandertal”, um emaranhado de sons urbanos como sirenes, gritos e surtos sob base de guitarras e baterias que lembra “Misirlou”, de Dick Dale, ele canta: “CPF/ Identidade/ Comprovante de endereço/ Entre na fila/ Eu mereço/ Eu sou um número/ E eu me desconheço”. Mas, ao contrário do que expressa na letra, Moraes se recusa a se enquadrar em algum tipo de estilo musical. “O problema de Goiás é que tem gente que me inclui no rock e outros na MPB. Acho que tenho a atitude punk, que é minha escola, onde comecei. Mas trilhei por outros caminhos depois. Falem o que quiserem sobre meu estilo, só não quero perder a espontaneidade nem me prender em nenhuma camisa-de-força, em um estilo homogêneo.”
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