quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Entrevista no site da Trama Virtual:



No dia 16/10 dei uma entrevista para a Trama Virtual...

Olha lá: http://tramavirtual.uol.com.br/noticia.jsp?noticia=7192





foto: PolliShiver

à direita: Diego e Aderson Maia (baixo)


Neo-tropicalismo interiorano por Flávio Seixlack

Criativo e despretensioso, goiano Diego de Moraes faz músicas que remetem a Tom Zé e Bob Dylan


16/10/2007
Um conselho para os jovens compositores: nunca esconda suas músicas. Para o bem ou para o mal, é melhor que suas composições venham à tona em algum momento, para que as demais pessoas conheçam seu trabalho. No caso de Diego de Moraes, goiano da cidade de Senador Canedo, felizmente alguns amigos o convenceram a expor suas canções para o mundo. Diego começou como baterista em diversas bandas, mas uma série de acontecimentos o levou a virar cantor e compositor, uma espécie de Bob Dylan neo-tropicalista do interior brasileiro, ou um Tom Zé um pouco mais psicodélico. O melhor de tudo: é bom, criativo e despretensioso. O músico lançou o EP Reticências este ano, mas já tem composições pra um próximo lançamento. Por e-mail, Diego falou com a TramaVirtual.

Quando você começou a mexer com música? Você era baterista, certo?

Sim. Comecei tocando meia lua na Igreja, com uns 13 ou 14 anos de idade.Por volta de 2001 comecei a tocar bateria em bandas. Minha primeira banda foi os Idiotas Superiores e depois toquei na Nóia Catódica (eram bandas de Senador Canedo). Em 2002 toquei batera no Leigos, que foi "a banda da minha vida" (banda em que o vocalista era o Fernando, que tinha as sementes do que faço hoje. Era bem misturado: a gente escutava de Beatles a Pixies, de Joy Division a Raul Seixas na época). Tem uma banda de punk rock de Senador Canedo, em que eu toquei bateria, que é o The Cretinos (nessas gravações sou eu na batera).

E quando foi que se interessou em compor solo e ser frontman?

Não é que me interessei, mas a situação me empurrou pra isso. Mesmo quando tocava bateria eu já rascunhava algumas coisas no violão (escutava Legião e tinha um tesão com o lance da letra). Mas geralmente nunca tinha espaço pro que eu tinha escrito nas bandas em que participei (pois não encaixava no tal do "estilo"). Tanto que grande parte do que temos apresentado atualmente é coisa que escrevi uns quatro anos atrás (às vezes acho que as pessoas "conhecem" o que eu já fui e não vejo a hora de apresentar o que escrevi na semana passada). Mas eu escondia tudo o que eu escrevia pra mim. Tinha vergonha de expor minhas tosqueiras. Só que depois que grilei com tudo, fiquei um tempo sem tocar batera. Enquanto isso eu mostrava meu "repertório" só pros meus amigos mais próximos. Logo eles me convidaram pra participar de alguns eventos (com voz e violão). Até que perdi a "vergonha na cara" e inscrevi uma de minhas músicas anti-musicais num festival de MPB daqui em agosto do ano passado (é minha interpretação do inferno... o "Todo Dia"):

http://www.youtube.com/watch?v=xRgGeV1fMtA

Depois (em dezembro de 2006) participei (só eu no violão e minha irmã, Fernanda, de 13 anos, na época, na bateria) no Tacabocanocd, evento organizado pela Fósforo Records, que premiava o vencedor com a gravação de um EP. Em janeiro eu tinha um show numa boate (voz e violão – hilário!), mas encontrei uns amigos meus na rua, que toparam me acompanhar. Durante a gravação esses loucos também aceitaram participar (É o Aderson Maia, no baixo e sintetizador, o Eduardo Kolody na guitarra: esses dois tocam no Seven. Tem o Gabriel Cruz, na percussão e, na gravação do CD, eu mesmo toquei as bateras, mas nos shows o Eltin assumiu o posto). Então é isso. Me tornei o tal do "frontman", pois foi o jeito, por causa da determinação do acaso dos acontecimentos e por que até agora não achei nenhum doido que aceitasse cantar o que eu escrevo, mas não vejo a hora de voltar pra bateria, que é um lugar melhor pra viver em paz, não é?

Qual foi a primeira música que você compôs? Do que se tratava?

Cara, isso eu não lembro. Acho que foi uma que chama "Papai", que era sobre crescer sem referência. Mas uma das primeiras foi a "Confusão", que é uma crítica à hipocrisia... Tem uma versão muito tosca em minha página.

Quais suas principais influências?

O Call Center, o ônibus, Fernando Simplista, Senador Canedo, o Henfil, o Pasquim e a minha mãe. E, musicalmente, não sei (até porque quando tô compondo eu não penso na influência... as pessoas que falam o que querem enxergar depois). Mas escuto: Tom Zé, Beatles, Bob Dylan, Sérgio Sampaio, Mutantes, Beck, Raul Seixas (amo o disco da Sociedade da Grã Ordem Kavernista do Brasil!), Júpiter Maçã, Roberto Carlos, Smiths, Ramones, Walter Franco. E, ultimamente, o compositor que mais tô escutando é o Luiz Tatit.




Você tocou no Bananada esse ano. Como foi esse show? Foi o primeiro em festival com banda?

Sim. Foi o primeiro festival que toquei com banda. Nossa! Foi além das nossas expectativas, o público foi muito simpático com a gente e nós estávamos inspirados naquele dia. Lembro-me que muita gente queria nos desanimar dizendo que "a primeira banda do primeiro dia não é percebida", mas acho que a repercussão foi muito positiva (saiu até uma foto minha e do Aderson, baixista, ilustrando uma matéria sobre o festival na Rolling Stone). O jornalista até me falou que tinha achado o show muito bacana, criativo e que se identificou com o que eu disse. No meio do show eu falei um negócio (que desagradou uma galera, mas que foi bem recebido por parte do público): "ano passado eu não tinha nem um centavo pra vir aqui. Esse ano eu continuo quebrado, na merda, sem grana pra nada; mas, pelo menos, estou tocando". Foi isso. O problema é que nos shows eu não me controlo e acabo falando o que tô sentindo. Tocar no Bananada foi uma experiência muito legal, que nos deu uma certa visibilidade, o som foi de primeira e uma platéia massa! Agora espero que venham outros festivais.

Como funciona a banda ao vivo?

Todo show a gente inventa uma trela diferente, um nome diferente também.Já nos apresentamos como Diego e os Mendigos, e Os Fritos da Terra, e a Classe Operária (no Bananada), e a Alta Sociedade, Diego e os Imoraes, e a KGB (no Vaca Amarela). Daí, dependendo da ocasião a gente cria um clima, com fantasias ou não. A banda contribui muito para a construção desse clima, que varia conforme a situação, o ambiente (às vezes o show é mais punk ou pode ser mais tranqüilo também). Depende. Às vezes tem participações especiais. E o Chicão, irmão do Aderson, toca baixo, quando o Aderson toca sintetizador. Sou o fã número um da banda que me acompanha. Eles não fazem só parte de uma "banda de apoio", mas são meus "companheiros de guerra". Estou muito grilado com muita coisa por aí, mas muito feliz com essa banda!

Você lançou um EP pela Fósforo Records esse ano. Comente um pouco sobre esse trabalho.

Já comentei em uma pergunta anterior sobre como encontrei os músicos que estão comigo. O EP foi produzido pelo Leo Yanes, que me deu muita liberdade pra fazer coisas variadas. Mas depois que terminamos senti que poderia ter feito mais coisas. É sempre aquela insatisfação constante, né? De acordo com o Tacabocanocd (evento que me proporcionou a gravação) eu poderia gravar quatro músicas, mas o dono do estúdio (Gustavo Balduíno) permitiu que eu gravasse cinco. E, além disso, entre as músicas gravei umas vinhetas (que dão uma unidade conceitual pro EP. Pra mim, as vinhetas são fundamentais pra entender a proposta). Então fui lá e gravei as guias e depois a banda me ajudou a criar em cima do que eu tinha composto. Abri o EP pedindo desculpas por cantar em português (isso pois grande parte das bandas de Goiânia preferem cantar em inglês). Uma das músicas mais comentadas do EP é a "Música Estranha pra Pessoas Esquisitas", mas a minha favorita é o "Dia Bonito". Acho que esse EP é um pequeno esboço do que eu ainda poderia fazer, talvez. Sei lá. Na capa tem uma foto minha com quatro anos de idade, no meio do mato e todo "grunge" (de xadrez e All Star). É um retrato da globalização: o “cabôco” no “mei” do "Goiás" e achando que é alguma coisa... todo roqueiro. O EP chama-se Reticências, pois quando a gravação estava sendo finalizada eu já tinha composto novas músicas que iam em outra direção. Por isso coloquei esse nome no EP, com a esperança de um dia mostrar a continuação, quem sabe.

Os festivais hoje em dia são muito voltados pro rock. Seu som costuma ser aceito facilmente pelas pessoas da platéia quando você se apresenta?

Sim, pois o rock está presente também. Mas depende. Na maioria das vezes não é fácil. Muita gente fala que, num primeiro momento, teve uma resistência e só depois foi entender a onda toda. Geralmente, na hora do show percebo uma boa recepção. Mas às vezes, depois sempre tem pessoas que fazem comentários maldosos e, o pior, sinto que falam sem saber do que estão falando, pois precisam manter a "pose de mal". Acho às vezes incômodo, pois não quero ser um fascista, como muita gente por aí, que fica preso em um único ponto de vista. Mas, no geral, a platéia tem sido bem receptiva, muita simpática (embora tenha show "barra pesada" no "currículo" também). Já toquei até em festival que tinha uma tendência mais punk (o Miscelânea), em que fui respeitado. Acho que por causa da letra. Não sei. Creio que a força da banda ao vivo tem facilitado um pouco, pois o Diego de Moraes individualmente é, geralmente, antipático, pois, sem querer, acaba falando suas verdades inconvenientes, né? Mas, com "fé em Deus", um dia eu paro de ser chato assim!

Quais são seus próximos planos?

Ensaiar e gravar, urgentemente, as novas músicas. Mas, pra isso, preciso de apoio, pois tô sem grana até pra pagar o aluguel... É foda!