domingo, 1 de maio de 2011

Peregrino da canção




Como eu ia dizendo na semana retrasada, a figura do mascate, o vendedor-andarilho que leva um punhado de mercadorias na mala pela estrada afora, se parece um bocado comigo e eu não vou “tão” sozinho. Não que eu seja turco, apesar desse nariz um tanto quanto avantajado, mas carrego nas minhas costas: diferentes bugigangas, diga-se de passagem. Como havia combinado (e pra não perder o fio da meada), hoje meu propósito é discorrer um pouco sobre meu caminho[1], levando, pra cima e pra baixo, variados produtos dentro da mala, como música e poesia.

Ainda na crônica passada, contei sobre a banda aqui do Canedo em que toquei bateria, a Nóia Catódica. Graças a ela, conheci o Fernando Simplista, com o qual fundaria, juntamente com o “cretino” Erick Reis, a banda Leigos (daí meu e-mail - diegoleigo@gmail.com -, hein?). Juntos éramos felizes, e sabíamos, e ouvíamos...Beatles, com suas belas melodias carregadas de vogais. Fernando foi uma ponte que me ligou do punk à música brasileira. Mesmo leigo, eu já rascunhava, nas paredes do meu quarto, minhas primeiras musiquinhas. Assim, iria das baquetas para as palhetas. E, para cantar minhas letras-paranóias-idéias, me servia do violão como companheiro. Nesse primeiro momento, por volta de 2004, a música era apenas um pretexto para o texto. A toada da minha música, nessa altura do campeonato, tinha o sentido de “desabafo” – e era isso que apresentava nos primeiros festivais nos quais dei a cara a tapa. Dentre as maiores surpresas destes festivais posso citar a amizade com Kleuber Garcêz, outro “vendedor de sonhos”, com o qual passei de concorrente para parceiro musical. Um certo tempo depois , saí da condição de “trovador solitário” e me desmembrei em 3 bandas, das quais participo atualmente (por onde cronológica): Diego e O Sindicato, Waldi & Redson e Pó de Ser. E a música tornou-se “parte de nós”.

Com a chegada da idade, passo a compreender um tiquim mais da fabulosa fábrica da canção – daí estou falando dos elos entre letra e melodia. Ao contrário de outrora, hoje penso que não é tão somente o que digo o que interessa, mas também o jeito de dizer. É o tal negócio: forma e conteúdo. “Há quem diga que eu dormi de toca” e que letra de música não é poesia. Sem querer me estender nesse tópico utópico, penso que não são raros os casos de poetas que buscaram na música um outro suporte para suas palavras – vide Vinícius, Torquato, Waly, Leminski, Capinam, Pio Vargas e por aí vai. E por aí vou. E vamos nessa, vamos lá!

http://www.youtube.com/watch?v=AvLj72apGLI

[publicado no jornal Diário da Manhã]


[1] Obrigado a Ksnirbaks e Kleuber Garcêz por revisar minha visão, na crônica de hoje.

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