domingo, 17 de abril de 2011

Mascate & Os Seus Cometas - no país dos baurus
























[ilustração: Kleuber Garcêz]


Há muitos anos atrás (bota muito nisso, já que nesse tempo violento do twitter: meses parecem anos!), quando eu era jovem, toquei bateria numa banda de rock do Canedão do meu coração, chamada Nóia Catódica. O ano devia ser 2001 e eu estava por volta dos meus 15 anos. Tentando entender a vida (pois papai já havia passado dessa pra outra esfera e, assim, o tema da morte tornara-se uma inquietação constante na minha cabeça de aborrecente), vivia lendo a Bíblia de cabo a rabo (sim, sei que preciso re-ler para re-interpretar as parábolas, porque, na época, eu não era “virgem” apenas no signo, mas também na “cabeça”...) e já começava a grilar com os fariseus ao redor (sempre existem muitos deles por aí – principalmente nesses nossos tempos tuiteiros de tanta hipocrisia transvertida de “politicamente correto” – né não?). Então. Foi nesse período da minha vida que o pessoal da banda Nóia me apelidou de “Mascate” – o Nick, o vocalista, sugeriu e o Joãozinho, o baixinho baixista, batizou. Era um apelido que ficou restrito àquele ambiente, daquelas pessoas, que viam no Keith-Moon-em-potencial que eu era: semelhanças com um legítimo vendedor de panelas que bate de porta em porta (logo eu que só “batia” escondido atrás da porta!). Sabe aqueles apelidos que registram uma experiência no mundo, uma intimidade em um circuito de amizades? Pois é, eu era o Mascate.

Anos depois, lendo nos anais da História, vim a descobrir que os mascates, mais do que meros comerciantes de trenheiras, eram também “links ambulantes”, pois levavam informações, percorrendo o sertão, vendendo um pouco de tudo. Como diz o professor João Alberto: “atrás de cada mercadoria tinha todo um mundo”. Minha mãe lembra que, quando ela era menina, na fazendinha de meu avô, era um motivo de festa na vizinhança, quando chegava com suas novidades e mala na mão, a figura do mascate. Às vezes ele era motivo de piada, mas não se importava e prosseguia em sua caminhada. Em alguns lugares do interior, esse mercador, comumente um turco, era apelidado de “cometa”.

Metido a besta que sou, relacionei o antigo apelido com o que o que me tornei na vida (metido a besta que sou). “Tem dias que a gente se sente como quem partiu” e, nesses dias, me sinto um mascate de idéias, um andarilho, um nowhere man (Eu Queria Ser John Lennon” ... mas essa é outra história, do goiano Odair José). No próximo “domingão do Diegão”, continuarei tentando vender meu peixe, narrando sobre o tipo de material que mascateio – no que tange à relação entre ‘poesia e música’, em particular. Não percam as cenas dos próximos capítulos: aqui mesmo nesse canal ou lá no meu twitter: @diego_de_moraes . Beijo do magro! Partiu.



[publicado no jornal Diário da Manhã]

Um comentário:

Creuza disse...

Ufa!!! Amanhã começa a "mascateação" em Itaberaí! Delícia! Um encanto de projeto. Obrigada, "Mascateiros"!!!!!

Creuza Arrais