Celso Moraes Faria
é um cara que não conheço pessoalmente;
mas nos conhecemos,
via nossa prosa por email,
uma das boas surpresas trazidas por publicar no DM.
A conversa começou no fim do ano passado,
quando ele entrou em contato, comentando a crônica sobre Assis Valente.
Pensei: "tá aí um cara raro, nos dias de hoje"...
Compartilhamos, além do sobrenome e do difícil ofício de professor,
a paixão pela leitura e pela filosofia.
Mês passado, ele me enviou um email emocionante,
sobre a crônica O amor é maior que a morte.
Um email sincero, acompanhado por esse texto dele,
muito bem construído, escrito em 1993,
que compartilho aqui, agora:
FAMILIARIDADE
Márcia, desde muito pequena,
tinha, talvez por hábito,
talvez por coisa determinada (por quem?...),
tocar, mesmo que de leve, os mortos,
em todos os velórios nos quais porventura marcasse presença.
Nem que fosse um brando toque com a ponta do dedo sutil,
era quase necessário,
era quase um ritual.
Fosse na testa fria,
ou na face tão gelada,
ou no par de mãos crispadas,
tinha que tocar o defunto, ou a visita não seria proveitosa
(quão proveitoso pode ser um velório?).
Márcia manteve o hábito até o fim da própria vida,
e quando esse fim chegou, num dia triste e chuvoso,
ela não se assustou ao ver a Dama de Preto.
Intrigada Márcia estava
com a coragem que ostentou,
mas a Morte, percebendo, à anciã explicou:
“Tocaste tanto os meus mortos,
que tomaste consciência,
através daqueles corpos,
de toda a minha essência.
E assim compreendeste
que horror algum advém
do meu toque, que é descanso
para aquele que é do Bem.
As pessoas não entendem,
por isso é que medo têm.
Tua ventura invulgar
não é para qualquer alguém.”
E assim, Márcia morreu em paz,
e teve a grande sorte:
pois, antes de ser tocada,
tocara mil vezes a morte.
Bom demais, né?
Na resposta eu disse: "cara, seu email é uma crônica!"
e agradeci o poema-conto, esti
mulando-o a fazer um blogDaí, outro dia, fiquei feliz ao receber outro email do Celso me passando
o link do blog dele: http://celso-moraes.zip.net/
Um comentário:
Meu amigo,
muitíssimo obrigado por divulgar minhas palavras. Espero retornar muitas vezes ao seu canto virtual. Um grande abraço.
Postar um comentário