"Aqui é festa, amor/ E há tristeza em minha vida." Esses versos, desabafados por Otto, carregam doses cavalares de sofrimento, de conflito, em um disco que serve como reflexão sobre a vida e, conseqüentemente, sobre a perda. Viver é perder. É se perder. Todo momento. Quero, hoje, falar sobre a vida. Eis uma missão que sei, de antemão, impossível em sua totalidade. Porém me lanço nesse desafio, de tecer tais impressões, pois semana passada estive em um velório inesperado – da mãe de um grande amigo meu. Inesperado, pois ela foi vítima de um atropelamento na Avenida Goiás. Eu poderia escrever sobre o trânsito violento de Goiânia como causa de mortes absurdas; mas deixo esse tema de lado, por ora. Prefiro falar da vida e sua beleza e suas rasteiras. Uns festejam a vida e outros choram. Neste feriado de carnaval, enquanto o Brasil festeja, tenho um amigo em luto. Fico triste ao vê-lo triste. Triste ao ver-me impotente em um momento sem palavra que preencha o vazio. Triste ao lembrar. Lembro.
Todo velório é sempre um momento para pensar na vida. É na vida que todos pensamos diante de um caixão. Na despedida, não pensamos no ente querido enquanto matéria, mas enquanto memória viva. Viver é perder? Não. Viver é ganhar. Ganhar, dia a dia, em experiência, em sabedoria, com as próprias perdas. Todo velório é sempre um momento para pensar nessa reviravolta que a vida é, com seus imprevistos – alguns agradáveis, outros desesperadores. Minha mãe diz: “para morrer, basta estar vivo”. E nós, aqui, nessa corda bamba que é o mundo dos vivos, vemos um filme passando em nossas mentes. Fico triste ao lembrar. Também sorrio ao lembrar de detalhes, de pequenas situações vivenciadas. E lembro-me de outros velórios. Cada um carrega dentro de si o seu velório fundamental (aquele que constitui a pessoa, aquele que faz parte do seu repertório de experiências). O meu, por exemplo, é o do meu pai. Aonde vou levo o velório do meu pai comigo. Meu pai foi, mas deixou uma lembrança maior, de amor. Lembrei-me dele, quinta passada, quando caminhávamos para o jazigo e algumas pessoas cantavam baixinho uma linda melodia:
“O amor é maior que a morte”.
3 comentários:
Dieguito, um abraço no Gabiras por mim e VIDA longa ao sindicato, a reflexao sobre a morte estar por perto, nos rondando, nos faz querer viver melhor, fazer coisas relevantes, estar com pessoas que nos fazem bem, em paz com o mundo e consigo. Mexeu muito comigo aqui.
Excelente reflexão. Sempre teorizo sobre a morte e a vida. O amor pelas pessoas e os ensinamentos que elas deixam. Qual a memória que terão de você? E de mim?
Você faz o que para deixar sua marca no coração do mundo??
O que você faz pra viver a vida loucamente, divinamente, intensamente e sempre como se fosse seu último momento??
Valorizar as pessoas enquanto ainda estão conosco. Ouvir o som da voz delas enquanto ainda podemos. Saudade dói muito. Mas ter lembranças reaquece o coração.
ainda que a morte seja a única certeza da vida, não nos acostumamos a ela.
força para todos.
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