domingo, 30 de janeiro de 2011

Sérgio Sampaio para os fãs


“Tenho que cantar bonito pra ninguém botar defeito/ Tenho que cantar no jeito pra ninguém se arrepender ... de ter vindo/ Tenho que me esmerar/ pra nem pensar em matar/ o ouvido / de quem veio comprovar / se estou mesmo no lugar/ devido. / Preciso corresponder ao carinho de quem gosta de mim,/ gente que me acompanhou / e com razão se queixou / que eu sumi / daqui, daqui. / Quero então mostrar algumas das canções que eu fiz distante / longe da cidade, cônjuge, / que agora é como a cama/ da amante. / Quero enfim “tocar logar” (?),/ dizer o verso banal/ e lindo./ E tentar surpreender/ quem só veio para ouvir/ o antigo./ Cantar bem, retribuir/ o carinho de quem gosta de mim,/ gente que me acompanhou / e com razão se queixou / que eu sumi / daqui, daqui/ Aconteceu um novo amor/ Não podia acontecer/ Não era hora de amar/ Agora o que é que eu vou fazer?”

Os versos acima são de uma bela canção do compositor Sérgio Sampaio – capixaba, que veio da mesma terra do “rei” Roberto Carlos, pra ser um gênio “marginal” (à margem) da música brasileira. Não sei se os digitei corretamente. Não sei o nome desta canção. Só sei que é maravilhosa: uma linda melodia e uma poética à flor da pele. Só sei que esses versos chegaram através do milagre da internet. Algum fã comenta que essa musica se chama "Cantar Bonito". É um registro da gratidão do artista para com seus fãs. Ela não foi gravada em nenhum disco de Sérgio, permaneceu inédita. Seus fãs só podem conhecê-la graças a mágica do mundo virtual. Uma imagem do compositor, transpirando vida, em seus últimos anos aqui na Terra. Para entender o que digo: procure no youtube um vídeo com o mesmo título deste meu texto de hoje.

Ali, naquele vídeo, Sérgio Sampaio, “poeta do riso e da dor”, cantava para uns 3 amigos bêbados, sua verdade, “cruel” verdade. “Pérolas aos porcos?” Não! Pérolas para aqueles seres humanos, ouvindo a poesia real, sem meio termo. Sérgio sabia que “um livro de poesia na gaveta não adianta nada, lugar poesia é na calçada, lugar de quadro é na esposição”. Na informalidade do momento, o som e a vida de Sérgio acontecia, com sofisticação e simplicidade. Sérgio, biográfico e universal, fazia seu show para aquelas pessoas que dedicavam atenção à sua música, que o admiravam, apesar dele ter sido vomitado das paradas de sucesso. Mesmo sem microfone, sem os holofotes, sem maquiagem, sem a presença da imprensa, um lindo show acontecia.

Não sou religioso, mas acho que o show é um momento sagrado. Já toquei em várias ocasiões, de teatros cheios à rodas para poucas pessoas. Não importa se estou no Ibirapuera ou em uma escola estadual: o respeito para com o publico, com essa “gente que me acompanha”, é fundamental, sempre. Depois de ouvir a “Canção Bonita” de Sérgio Sampaio, o que eu tenho a me dizer? “Diego, continue tocando pra 1 pessoa, como se estivesse tocando pra 1 milhão”. Seja pra agradar ou pra agredir. Seja: sempre você! O show é um momento sagrado. “Preciso corresponder ao carinho de quem gosta de mim”.


(publicado no jornal Diário da Manhã)

Um comentário:

Marina disse...

O Sérgio é de uma poesia que encanta até a alma.
Belo texto.

Abraços.