quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

"Os sindicalistas do rock" - matéria no O POPULAR

Hoje no caderno Magazine, do jornal O Popular, saiu uma bela narrativa de @carollalmeida sobre a nossa saga:
Abaixo a matéria na íntegra,
seguida da entrevista que Caroll fez comigo:


OS SINDICALISTAS DO ROCK

por: Caroll Almeida


BANDA DIEGO E O SINDICATO LANÇA O PRIMEIRO DISCO, PARTE DE NÓS, E MOSTRA POR QUE MERECEU TER UMA MÚSICA INCLUÍDA EM LISTA DO JORNAL INGLÊS THE GUARDIAN.


No começo, ele se apresentava apenas com um violão e a irmã na bateria quebrando o galho. No Tacabocanocd, festival realizado pela Fósforo Cultural, Diego de Moraes abocanhou o prêmio de melhor performance e foi para o estúdio gravar. Com o EP Reticências, em 2007, a ideia inicial da banda Diego e o Sindicato surgiu, o grupo caiu na estrada, passou por vários festivais independentes importantes no País e viu suas músicas rodarem pela abençoada internet.

E foi numa dessas, por meio do Music Alliance Pact - um projeto do qual participam 35 blogs especializados de várias partes do mundo -, que Amigo, uma das primeiras composições de Diego, foi parar numa lista de melhores músicas divulgada em dezembro no blog do jornal The Guardian. Nada mal para uma banda que só agora lança o primeiro disco, Parte de Nós. Nada mal para uma banda que começou meio sem querer começar.

Diego não chamou os amigos para fazer barulho na garagem de casa, em Senador Canedo. A banda - formada por Danilo Teles (baixo), Eduardo Kolody (guitarra e sintetizador), Gabriel Cruz (percussão e efeitos) e Hudson Rabelo (bateria) - surgiu por necessidade, no estúdio. E vieram os shows.

Mas, como Diego gosta de definir, "o show era um "happening" e não havia ideia de banda ainda. A cada apresentação o grupo ganhava um nome diferente: já foi Diego e a Classe Operária, Diego de Moraes e Os Imorais, Diego e Os Fritos da Terra, Diego e a KBG... Integrantes entraram, outros saíram (como o baixista Aderson Maia, hoje uma espécie de membro honorário), e a denominação definitiva só veio mesmo quando a coisa começou a ficar séria, no final de 2007, quando, após ganhar o Festival Capricho, em São Paulo, gravaram no Estúdio Trama a faixa Amigo e, por votação popular, tocaram no Goiânia Noise Festival pela primeira vez.

A seriedade agora é evidente. Não aquela seriedade que barra a leveza, o descomprometimento saudável, mas aquela aliada ao profissionalismo. Basta ouvir o disco para saber que a banda, hoje tida como a nova promessa da cena independente goiana, está pronta, lapidada.

Parte de Nós impressiona de cara. As ilustrações de Thiago Xavier fazem qualquer um lembrar o quão bom é folhear o encarte de um disco, prática tão rara em dias de download. Complemento certo para as letras cheias de jogos de palavras do Diego e arranjos do Sindicato, a mistura nada indigesta de suingue, samba, pancadaria, riffs de guitarra, acordes de viola, pandeiro, trovadorismo e um quê de brega mais que bem-vindo.

Com 12 faixas, Parte de Nós traz canções que alavancaram o nome da banda como Amigo, Animal Irracional, Sobrevivo e Todo Dia. Na segunda metade do CD, a genial Pelas Barbas do Profeta, 69, Seu e Quase Nada, provavelmente a melhor faixa. No dia 29, a banda se apresenta no Ibirapuera, em São Paulo, e no dia 3 de março, no Itaú Cultural, também na capital paulista.


Disco:Parte de Nós

Artista:Diego e o Sindicato

Distribuição:Fósforo Cultural

Preço:R$ 10

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Entrevista/Diego de Moraes

"Sou um péssimo cantor’"


Em entrevista ao POPULAR, Diego de Moraes falou sobre a banda, seus outros projetos e a vontade revelada de um dia parar de cantar e só fazer o que mais gosta: compor. Confira:

A banda lançou um disco com composições que muita gente já conhecia. É mais fácil colocar um disco no mercado com músicas que já são aceitas pelo público?

Várias músicas já eram conhecidas dos shows, mas ainda não tinham sido registradas num fonograma. Muitas pessoas só estão conhecendo essas músicas e a banda agora que o CD caiu na rede. Não penso que este tenha sido o caminho mais fácil, não foi pensado intencionalmente. Foi uma situação que aconteceu.

Com tantas composições, por que só agora a banda gravou um CD?

Antes não tivemos possibilidade, financeira e não de inspiração. Por isso, divulgávamos com o EP Reticências, que deu origem à própria banda. Só foi possível começar a gravação em 2009, graças à aprovação na lei municipal (de cultura).

Fora a banda Diego e o Sindicato, você já teve a Filhos de Maria e agora também tem a Pó de Ser e uma dupla sertaneja, o Waldi & Redson. Por que tanta coisa ao mesmo tempo?

É necessário buscar outras possibilidades pra dar vazão ao que quero e gosto de fazer. Cada banda é um universo, fruto do universo que são as pessoas que compõem aquela banda. Gosto disso: de universos em relação. Pó de Ser nasceu em 2009, em um primeiro momento, para tocar as parcerias musicais que eu já vinha fazendo com o Kleuber Garcêz, desde o fim de 2007. O Kleuber compunha para a banda dele, Minadágua, mas queria compor outras coisas, com outras propostas. Assim como eu também queria ampliar minhas possibilidades, como compositor. Então, novamente um encontro e veio a ideia do Pó de Ser.

E por que uma dupla sertaneja?

Waldi & Redson é uma dupla sertaneja que criei com o Chelo (atual baixista do Porcas Borboletas). A gente é muito fã do sertanejo real. Pra gente um grande encontro na música seria um papo do Tião Carreiro com o Johnny Cash, dois timbres graves na voz e chateação no coração. Waldi & Redson também tem influência das histórias de bangue-bangue do Leo Canhoto e Robertinho. Fizemos a dupla porque é o que a gente gosta de verdade, é a nossa raiz, o que escutamos no ranchinho dos nossos avós. Sem falar que hoje as duplas sertanejas não fazem sertanejo, fazem pop-rock. O Chelo costuma dizer que Waldi & Redson é a coisa mais punk que ele fez na vida. Tem gente que acha graça, mas é dor fruto da desgraça das nossas vidas. Vamos começar a gravação do disco Minha Vida Empanzinada.

E quando chegar a hora de dar prioridade para uma apenas? Como vai ser?

Minha prioridade é a arte. É estar em permanente movimentação. Sou professor do Estado, dou aula na cadeia pública de Senador Canedo, o que faço com orgulho, estou terminando o mestrado em História e tenho projetos de poesia e música. Faço muita coisa, não sou "especialista" em nada. Na realidade, a coisa mais importante na minha vida é compor. Eu queria parar de cantar. Sou um péssimo cantor. Mas preciso continuar, pois não encontrei ninguém para cantar minhas músicas... E preciso do show pra expor pro público o que escrevi aqui no meu quarto. Não me considero "músico", sou só um discípulo do verso dos Titãs: "eu não sei fazer música, mas eu faço".

Você não considera nenhum um projeto paralelo?

Ultimamente venho detestando o termo "projeto paralelo". Pra mim não tem isso. Tudo é projeto central. No momento que ensaio, ou escrevo, dedico minhas forças àquilo. E tudo é importante.

Incomoda quando dizem que você é o Raul Seixas do Cerrado?

Hoje não me incomoda mais. Uma vez o Pablo Kossa (produtor cultural e jornalista) me disse algo muito inteligente: "Diego, quando alguém fala sobre você, a pessoa está falando mais dela mesma, do universo dela, do ponto de vista dela, do que ela vê em você."

Mas há uma influência que não se pode negar.

Não nego que muitas canções de Parte de Nós, que escrevi com menos de 20 anos, trazem a marca da influência do Raulzito, que é o grande mito do rock brasileiro, que foi um cara que fez muito minha cabeça, junto com a moçada do rock brazuca dos anos 80 e 90, e ele foi importante quando resolvi sair da igreja, por ter lido a Bíblia inteira por duas vezes. Amo o Raul e odeio o tradicionalismo dos "raul-seixistas" que não vivenciam a mensagem da Metamorfose Ambulante. Agora, uma música como 69 já traz outras influências, de Mutantes, Pink Floyd e no fim ainda cito os Stooges. Ainda em 69 digo "eu quero o novo de novo e o Tonico e Tinoco". E termina com uma pancadaria que nem sei o que é aquilo.

Como é o seu processo de composição?

Cada música surge de uma forma. Tem umas que pego o violão e sai de uma vez. Outras, como Amigo, por exemplo, demoram mais. Amigo eu tinha o riff no violão, mas não conseguia colocar letra. Depois de um tempo, vieram os primeiros versos. Depois, veio a ideia de em cada parte da música acrescentar uma frase e um acorde diferente, para representar o conflito do eu lírico que quer ser original, mas que se sente só "mais um", "uma parte de nós". No começo, era sempre muito espontâneo. Hoje ainda acontece isso, músicas que simplesmente "acontecem". Mas estou gostando cada vez mais da ideia do compositor como um arquiteto da palavra e do som. Tenho me interessado cada vez mais na ideia da canção como construção, tijolo por tijolo. Acho que tem a ver com o processo de compor com parceiros. É muito massa compor em parceria, um brigando com o outro, intervindo, sugerindo. Um filho coletivo. Quero fazer cada vez mais e cada vez mais em parceria.

Um comentário:

Prof@ Elissa disse...

Bobagem.

Assisti a apresentãção do Diego na escola em que trabalho num dos eventos (ÍDelos) de 2010. O garoto sentou num banquinho no palco organizado para os alunos apresentarem, pegou o violão e soltou.
Meu queixo caiu. Pensei: Gente, quem é? Só perguntei depois pra não perder nenhum acorde.

O moço ainda não tem noção do talento que tem.

Não sabe cantar? Bobagem sem tamanho.