domingo, 16 de janeiro de 2011

um nirvana em tempos de Wikileaks



[publicado no jornal Diário da Manhã ]


Sexta feira: 14 de janeiro; minha crônica da semana: concluída. Depois de uma boa, e cansativa, semana corrida – planejamento, releituras, livros sublinhados, entrevistas, cordas arrebentadas no violão, dias e madrugadas de estudo e produção, boas e péssimas notícias – e de uma enchente de tragédias estampadas nos jornais. Enfim, conseguia me organizar e terminar o texto semanal pra este espaço, que sempre me esforço pra ser bem gostoso (ou seja, pra que compactue com a imagem aí do lado, da Geléia do Pampinha). O texto estava pronto pra enviar à diagramação do jornal. Antes de clicar na opção “enviar” do email; dou uma espiada no twitter para ver os assuntos que meus “followings” fofocavam. De repente, quando me dou por mim, estou no site de um tal de Dodô Azevedo ( http://www.dodoazevedo.com ) que noticiava: “VAZOU: Lendária mixagem original de In Utero, do Nirvana, já circula na rede”. O quê? Tiro a remela dos olhos pra ler melhor. Imediatamente, boto meu pc pra baixar a pérola. Arquivo o texto que eu tinha feito. E recomeço. Agora sim, podemos iniciar a conversa de hoje.


Angústia adolescente pagou muito bem/ Agora estou entediado e velho” – os dois primeiros versos daquele disco previsto para ser o sucessor do sucesso que “cheirava espírito adolescente”: Nevermind. Situando os versos no contexto... Os olhos de cifrão dos engravatados da gravadora Geffen viam uma multidão ensandecida dizendo: “agora entretenha-nos!”. O ano era 1993. Nirvana, banda que reinava entre gregos e troianos – era pop, era punk, era palhaça, era depressiva, era um pinto na câmera, era poesia – era a síntese de uma “Era”. A banda tinha a obrigação de apresentar para a indústria cultural um novo produto que agradasse público, crítica e, principalmente, os bolsos dos empresários da música veiculada via MTV. Porém, em vez de seguir a cartilha do disco anterior, Kurt Cobain tinha convidado seu ídolo Steve Albini – produtor que ia na contramão da sonoridade das FM’s, por conta das suas famosas gravações sujas e analógicas (“famosas” no submundo). Quando apresentam a mixagem final, a gravadora gosta das canções e detesta a gravação. Decide “limpar”, tornar mais “vendável” aquele som.

No texto onde encontrei o bendito link, Dodô Azevedo define bem a situação de 1993 (em contraposição com a atual): “O mundo underground, na época, estava esperando pelo encontro de Cobain e Albini como uma partida de futebol com Pelé e Di Steffano. A mixagem original de Albini nunca veio à tona. Permaneceu um mistério. Até hoje. Em tempo de Wikileaks, vazou a mixagem de Albini.” Dodô conjectura que se fosse hoje o In Utero de Albini/Cobain teria sido lançado e que ferramentas como o myspace teriam facilitado a vida de Cobain. Ficam as hipóteses, o som e a lenda.

Lembro-me quando ouvi o In Utero pela primeira vez, numa fitinha K7 emprestada por Erickitos, um dos meus melhores amigos – pai do meu afilhado John e criador de belas melodias aqui nesse solo provinciano de Senador Canedo. No começo, eu escutava a música Serve the Servents e achava engraçada, sem saber do significado irônico daquela faixa abrindo aquele disco pesado, desesperado e repleto de sarcasmo. Primeiro ouvi as canções, depois li a legenda e, hoje, chega a gravação “autêntica”.

Bom. Agora que o número de caracteres está acabando e já sugeri o link que trouxe felicidade e nostalgia à minha sexta... posso finalizar o papo e fazer uma cópia desse cd pro meu amigo Erick.

“Think I'm just happy!”




3 comentários:

blogueiro disse...

Eu prefiro Raimundo Fagner

Anônimo disse...

Acabei de baixar, fazia muito tempo que não ouvia Nirvana, nada como uma novidade dessa para dar um gás na vontade..

Acabei de baixar, o baixo ta gorduroso, a guitarra mais seca, batendo com força e o bumbo da para ouvir de longe..

Não to ouvindo, alto, ja é noite...
Quero ver isso a um volume mais alto..

Boa dica..

Abraço

Anônimo disse...

Continuo ouvindo mais atentamente o álbum..

Considero meu primeiro lançamento de 2011.

Talvez pelo fato, de ser uma gravação lo-fi que deu outro sentido para o álbum..

Também, pela falta de polimento, do certo e o correto, a gravação representa sentimentos, acima de tudo..

Hoje todas as bandas soam impecáveis, lindas, limpas, totalmente 2.0 musicalmente, não que isso seja ruim, mas Nirvana chega novamente para mostrar o que é boa musica..

Grande Abraço