no DM
em 12/09
.. Arrotando rótulos...
Há algumas semanas publiquei nesse espaço a crônica “Onde é que está meu rock’n’roll?” (o título veio do questão de Arnaldo Baptista no clássico LP Lóki). Nessa narrativa, imaginei o (des)encontro de três personagens caricatos: um emo (simbolizando o modismo), um indie (representando o elitismo antipopular) e um raulseixista-chiita (saudosista que só se interessa por ídolos do passado). Cada caricatura seguia seu rumo intolerante levantando sua bandeirola.
Antes de publicar, com medo de parecer preconceituoso, mostrei o texto para um amigo. Ele me tranquilizou dizendo que entendeu o texto como uma crítica ao preconceito de quem se torna um estereótipo incapaz de dialogar com o outro. Belê!
Eu só queria fazer uma brincadeira pra provocar a reflexão e acabou rendendo uns comentários por aí – na internet, na minha caixa de e-mails e pessoalmente. Muita gente com senso de humor e quem não entendeu a piada.
Outro dia, Higor Coutinho publicou esta crônica no blog dele, um dos melhores blogs de Goiás (goianiarocknews.blogspot.com). Uma moça comentou lá:
“Acho difícil alguém criar algum rótulo realmente bom. E Diego, citou três pseudo-rótulos, pior que isso, deve estar achando genial esta ‘tirada’. Rótulo são para pessoas planas.”
Hehe. Devo rir ou chorar? Minha crônica criticava quem acredita “ser” alguma coisa fixa e não consegue conviver com uma outra “identidade”. Na realidade, foi inspirada em 3 alunos meus, que se hostilizavam, pois cada qual era de uma tribo social distinta – cada um com as portas da percepção fechadas num estilo, no “eu sou”.
A gente não é porra nenhuma. Será que terei que repetir o que os materialistas e os existencialistas já disseram? Não há “essência”, não existe o “eu sou” em si. Eu me torno o que sou através de minhas ações, do que faço de mim, no mundo. Sou uma rede de relações sociais (o “ser-no-mundo” do Heidegger, o “indivíduo social” do Marx). “Eu sou parte de Nós.”
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