AGOSTO GOSTOSO
Assim que o percussionista Sérgio Pato (o carisma em pessoa) desceu do palco, alguém gritou: “Bom pra carái!”. Pato respondeu: “Pra carái, não... pra xoxota. Carái é pra quem gosta”.
Tem gosto pra tudo nesse mundo. E Goiânia oferece um amplo cardápio para os consumidores (e produtores) de arte, com essa tal de Revirada Cultural. Como cantava Raul: “É tanta coisa no menu que eu nem sei o que comer”. Até eu (que sou só um velho ranzinza de cueca no meio da sala cantando “I Can't Get No Satisfaction!”) devo dar o braço a torcer e exclamar: “Mas que agosto mais gostoso!”
Agosto já chega ao fim. “O ano voou”, muitos pensam, e penso, cá com meus botões: Não é que Goiânia, nesse mês, teve pra todos os gostos? Do sertanejo ao rock, da MPB ao hip-hop. Poesia, Cartum, Teatro, Dança, Cinema e o diabo a quatro fizeram parte do caldeirão cultural que a cidade ofereceu nesse mês de dá gosto – e continuará a oferecer no mês “que entra”, com a programação da Revirada, que notabiliza-se como um grande fato social. Um mês inteiro de programações artísticas é de tirar o chapéu!
Um senhor descia a rua do lazer e se espantou com a programação musical ali, que fazia juz ao nome da rua. Ele sempre achou o centro de Goiânia morto, pois só via bar e igreja, enquanto alternativa noturna. O véi se surpreendeu com a programação nota 10 na rua 8!
É realmente surpeendente ver a cidade fervilhando cultura, respirando arte em várias esquinas e para todos os gostos. Nem citarei exemplos do que rolou e do que está rolando, para não ser injusto com ninguém. Sugiro que você mesmo acompanhe toda a programação lá no blog: http://reviradaculturalgoiania.blogspot.com/
Agora, o que dá desgosto é saber que Goiânia tem essa cena cultural rica e o Centro Cutural Niemeyer está lá entregue às traças. É triste ver esse espaço que virou um monumento artístico do descaso. Diante do caso, a moçada não ficou sem fazer nada, só reclamando e coçando o saco. Fez da indignação, ação. O Rock pelo Niemeyer foi um alerta e outras maniFESTAções virão. O PCult (Partido da Cultura) exige dos candidatos um programa definido para o setor cultural. As forças pela cultura tem se mobilizado – o que é um gesto positivo. Lembro-me que, uma vez, o professor Nars Chaul me disse na sala de aula: “Falta nos goianos, o que sobrou nos baianos. Ou seja, a união”. Falávamos sobre o Tropicalismo. Parece que esse quadro está começando a mudar.
Falando nisso, tenho uma música, composta em parceria com meu amigo Kleuber Garcêz, que diz: “Eu sou um bicho urbano-rural, viola no meu rock’n’roll, dançando entre o bem e o mal, eu vou”. Essa é minha visão de Goiânia. Aliás, uma visão de dois “bichos urbanos”, pois essa letra saiu do “entre” Senador Canedo e a Campininha (ou seja, de um bairro que se emancipou e do outro lado, o bairro mais antigo que a própria capital).
Semana passada em Fortaleza, com a banda Diego e O Sindicato, vi uma tradição fortalecida, convivendo com a diversidade. Já em Goiânia, capital ainda nova, a cultura está sendo construída dia a dia. A nossa leitura do passado, no presente, e nossa interpretação do atual mais nossos projetos é o que fará o futuro. É o futuro que diz sobre o passado.
Enquanto isso, um cara elogia a música de Pato: “Do caralho! Bom pra caralho!”. E Pato, tranquilamente, responde: “Cuidado pra não engasgar...”
Um comentário:
Pois é, esperamos que isso não se torne apenas mais um evento ligado a politicagem eleitoral.
Outra questão são alguns importantes trabalhos artisticos que ficaram de fora, enquanto outros entraram por QI(quem indica) ou por aceitarem se apresentar por baixos cachês.
Vamu que vamu, a contradição está sempre em marcha...
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