segunda-feira, 21 de abril de 2008

Entrevista no Webjornal Outr'Análise

Ontem foi o show no Tacabocanocd. Depois quero ver as filmagens e fotos, pois ainda está tudo muito confuso na minha cabeça. Só sei que nós, do Sindicato, terminamos o show satisfeitos, pois foi um show livre. Fazia tempo que não fazíamos um show tão espontâneo...sem burocracia e sem pressão!
Acho o Mugo, banda vencedora, uma banda muito competente no som que se propõem à fazer e que merecia o prêmio, embora tivessem várias bandas boas concorrendo. (Deve ser um saco ser júri, né?)
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Hoje à tarde ensaiamos com os "Filhos de Maria", pois tem show marcado pra próxima terça.
E, agora à noite: vi que foi publicada a entrevista no site Outr'Análise. Esta entrevista, realizada por Túlio Moreira, foi importante pra mim, pois tive que tentar organizar meu pensamento pra tentar documentar um pouco do processo entre o Tacaboca que concorri e o show de ontem.

O Site é: http://www.outranalise.com/

Goiânia, domingo, 20 de abril de 2008
17ª edição - 2ª quinzena / abril / 2008

Diego de Moraes - "Que mané cult o quê?"
A Túlio Moreira





Foto: Marcela Guimarães
Diego de Moraes abrindo para Júpiter Maçã


No início da carreira, Diego de Moraes tocou meia lua na Igreja, quando tinha mais ou menos 13 anos. Hoje, depois de ter tocado bateria nos grupos The Cretinos e Leigos, ele se apresenta com a banda O Sindicato e conquistou o público do Estado. Suas composições já venceram diversos festivais e Diego tem sido elogiado por gente de renome no mundo da música, como o produtor Carlos Eduardo Miranda. O Outr'Análise publica agora entrevista detalhada com o cantor, que tem se firmado como um dos principais referenciais da música goiana.

Outr’análise: Diego, como foi o intervalo entre a vitória no concurso TacabocanoCD, da Fósforo Records, e o lançamento do EP Reticências...? Você já tinha uma idéia formada de como queria que fosse seu primeiro disco?
Diego: O intervalo entre dezembro de 2006 e janeiro de 2007 foi marcado por alguns shows em Goiânia e o choque com os comentários mais diversos que saíram sobre as minhas músicas. Lembro-me que tinha gente falando que meu folk era cult, e eu pensava: “que mané cult o quê?”. Nesse contexto comecei a compor o que era pra ser uma vinheta, pedindo desculpas por cantar em português, que acabei desenvolvendo naquilo que foi a faixa de abertura do EP. Essa foi a única música que escrevi durante as gravações. Todas as outras faziam parte de um material que eu já carregava desde meus 16, 17 anos.

Lembro-me que, na época, escrevi coisas que não convergiam com a proposta do EP. Até pensei: “Serei julgado por algo que fui e não pelo que sou.” Mas tudo bem. Precisava gravar, registrar aqueles pedaços de mim - do meu passado.

Não tinha bem definido como seria o EP. Eu tinha várias músicas pra vários temas, blocos de assuntos: tinha também vários álbuns organizados dentro da minha cabeça. Selecionar isso e organizar essa confusão toda, não vi como uma tarefa fácil...

Nesse intervalo, ressalto aquela que considero ser a data mais importante de 2007, na minha “vida musical”: o dia 04 de janeiro. Neste dia, na parte da manhã, fui ao estúdio Alcance para conversar sobre o EP e apresentar algumas músicas. À tarde, meio que por acaso, comecei a conversar na Opção Cultural, na Goiás, com o Aderson (baixista do Seven e do Sindicato) e com o Gabriel Cruz (percussionista), que eram, naquele momento, apenas colegas e conhecidos (hoje são meus amigos, meus irmãos) e os convidei pra me acompanharem num show que faria à noite na Ziggy Box.

Eles aceitaram, ensaiamos em cima da hora, e “no pacote” veio junto o Eduardo, pra guitarra. Ensaiamos até umas sete da noite e saí correndo, pois tinha que gravar o vocal pra versão do “Todo Dia”, que foi para o CD do Festival Sesi de MPB. O show na Ziggy Box não foi dos melhores, bem improvisado, mas foi fundamental pra começar a definir a “base aliada”, que iria compor o Sindicato...

Fiquei impressionado com o baixo que o Aderson fez ali em cima da hora pra música “Eu (segundo eu mesmo)”. Dias depois o convidei pra tocar baixo nessa música. Já no estúdio, ele se propôs a gravar os outros baixos (que foram fundamentais, em termos de arranjos, pra definir o som). Depois os outros integrantes (Gabriel e Eduardo) aceitaram gravar também.
Outr’análise: No dia 19 de abril (próximo sábado), você se apresenta na quarta edição do TacabocanoCD, que, na minha opinião, é um dos festivais mais inteligentes do cenário independente de Goiás. Como (você acha que) vai ser esse show?
Diego: Acho que será um show muito importante (e espero que seja uma madrugada de orgasmo...), pois, em 2006, participei só eu e minha irmã (Fernanda de Moraes), “concorrendo”, embora de uma forma totalmente despretensiosa (a única pretensão era mostrar o som pro público - não nos importávamos com os “jurados”, na época). Nunca imaginávamos que ganharíamos a gravação, pois era só nós dois e a nossa coragem (ou cara-de-pau, tanto faz) contra várias bandas, mais “redondas”.

Mas parece-me que avaliaram mais nossa audácia e o conceito da proposta do que a “técnica” (ou falta dela). Lembro-me que, na ocasião, minha irmã foi embora logo após tocarmos, pois não esperávamos o resultado positivo. Na época o “vencedor” deveria tocar no final e, como ela já tinha ido, toquei sozinho (só voz e violão) durante o show do Rollin Chamas (surreal esse momento!), que era o headliner da noite.

Agora estou, junto com a banda, fechando o evento. O Aderson Maia disse que é a primeira vez que ele toca enquanto headliner. Vejo como uma certa “consolidação” de um “trabalho” (embora eu ache que isso seja mais uma terapia do que um “trabalho”), e espero, como sempre, preparar em conjunto com o grupo a melhor apresentação possível. E, devido a circunstância, deve ter uma participação da minha irmã, que foi, e é, uma parceira importante.

O mais bacana é que, dessa vez, estaremos mais “livres” em relação à tempo e, assim, poderei mostrar músicas que não foram apresentadas ao público ainda. Essa iniciativa da Fósforo Cultural é aplaudível, por possibilitar que novos artistas se apresentem em um espaço que as minhas primeiras bandas, em Senador Canedo, nunca tiveram. Quando participei, em 2006, não conhecia ninguém do “meio”, que organizava eventos, e, após a apresentação, algumas pessoas, que não conheciam nada da minha música, começaram a ter notícia disso. Sem falar, que o EP Reticências... (possibilitado pela “vitória”, digamos) foi fundamental, enquanto um primeiro cartão de apresentação...

Outr’análise: Você já tem repertório para um próximo lançamento. O que mais seria diferente no segundo disco?
Diego: Tem algumas músicas novas, não tão críticas e mais auto-críticas e outras que tratam de crises individuais. Tem umas coisas antigas, com uma pegada mais rock e com o pé na poesia concreta (talvez resquícios da época em que eu ouvia muito Titãs, da época do Arnaldo Antunes). Também tenho muito interesse em misturar ritmos regionais com efeitos, com uma sonoridade mais contemporânea. Enfim, a velha proposta nova do tropicalismo: se atualizar sobre o novo, mas sem desprezar o aprendizado proporcionado pela tradição (ressaltando que o novo pode estar no passado também...). Acho que as novas músicas estão diferentes (não sei se são melhores ou piores) e, talvez pela mistura de estilos, vão por caminhos diferentes do que já foi apresentado até então.

Outr’análise: Como é participar de shows em diversos festivais e concursos? Os lugares, o público, a recepção, são muito diferentes?
Diego: Com certeza. Determinadas músicas “funcionam” mais, no sentido de emocionar o público, em um lugar e passam despercebidas em outro. Por exemplo: tenho uma música nova chamada “O Show vai continuar”, que parece não ter atingido um integrante da banda, mas, quando toquei ela em voz e violão, com o Simplista, no Goiânia Canto de Ouro, teve uma repercussão muito positiva, pois me emocionou de uma forma bem intensa e tocou o público naquele momento. Também rendeu elogios de gente que respeito, como Juraildes da Cruz. Essa música também foi muito bem aceita em São Paulo, na nossa última viagem.

Fico impressionado como as opiniões a respeito dessas coisas que faço, são sempre divergentes. Talvez por conta da diversidade do repertório... Ando tendo espaço em ambientes tão distintos, como os festivais de rock e os eventos de MPB. Meu amigo Hélio, do Demosonic, me disse que faço uma MPB-Punk... vai entender... cada um fala uma coisa.
Outr’análise: Rapaz, quando eu e uma turma da Rádio Universitária da UFG nos juntamos pra fazer um festival de música, você era um dos nomes mais certos pra participar. Valeu por aceitar o convite!
Diego: Pra todos nós, do Sindicato, foi muito especial e divertido tocar no Festival Matéria-Prima. Creio que foi o maior público para o qual já tocamos, em Goiânia, enquanto banda, até o Danilo Telles (guitarra e baixo) comentou isso entre nós. Achamos fundamental participar e aproveitamos a oportunidade para mostrar nosso som para pessoas que nunca nos viram tocar. Sem falar da diversidade saudável de perfis presentes no evento (tanto o pessoal que curte MPB, como quem curte rock, e gente que nem a gente, que curte música, seja MPB ou rock, não importando tanto o catálogo, mas sim o som...).





Foto: Kaíque Agostineti
Diego de Moraes e O Sindicato, no 1º Festival Matéria-Prima (março/2008)


Outr’análise: Cara, você vai participar da Virada Cultural desse ano!!! Como está sendo a experiência de ver sua música reconhecida em diferentes partes do Brasil?
Diego: Cada público é uma experiência (ou uma “transa”, segundo o Júpiter Maçã, né? rsrs). Pra gente é, sem dúvida, uma honra saber que tem gente interessada no nosso som e no que digo. Quanto mais oportunidade de me expressar pra esse público interessado, melhor.

E o mais bacana, é que tocaremos antes do Porcas Borboletas, que é uma de nossas bandas favoritas. Ou seja, logo após o nosso show, já teremos um espetáculo da trupe genial de Uberlândia.
Outr’análise: Você vai se apresentar no mesmo evento que os Mutantes...
Diego: Acho que será o evento da indecisão, com tanta coisa boa pra assistir ao mesmo tempo... Imagina: além de Mutantes, é o mesmo evento que toca Luiz Melodia (Pérola Negra) e Jorge Ben, por exemplo. Foda!!!!!!!

Outr’análise: Diego, você sempre cita parcerias importantes, como o Fernando Simplista. Como você prefere compor?
Diego: Na maioria das vezes componho sozinho (isso até agora, pelo menos). No entanto, comecei a fazer uma música com o Fernando falando sobre a reunião de pessoas pra tirar essas fotos. Evito mostrar músicas incompletas, pra não mudar o caráter da composição. Quando considero a música concluída, apresento-a às pessoas, à banda, mas prefiro, na maioria das vezes, não ceder á ditadura da opinião alheia. E não gosto de mudar a música mesmo que eu mude minha forma de pensar. Pois vejo a composição como a reação de um momento, se eu mudo o meu modo de ver, prefiro escrever uma música que seja uma resposta ao Diego-passado.

Mas sou muito inconstante, viu? Tenho poucas composições em parceria (no máximo umas cinco). Mas, atualmente, estou ampliando esse raio de parcerias, pois penso em tentar outras molduras pra determinadas letras. Devo compor algo com o Kleuber Garcez, com a Milla Tuli (que quer que eu faça uma música torta pra uma letra dela lá).

Algumas das minhas primeiras músicas, no entanto, foram parcerias com o Erick, do The Cretinos. Sobre o Fernando, sinto que a amizade dele é inspiradora, é instigante: nossas conversas vira e mexe viram músicas ou textos. Às vezes, a gente fica um tempo sem se ver, mas quando nos encontramos nossas preocupações continuam convergindo pro mesmo lugar. Espero que nossa amizade continue rendendo bons frutos, embora ainda não tenha uma música que concluímos juntos. Mas isso deve acontecer logo. Pensamos no futuro voltarmos a nos dedicar em um projeto de parcerias. (Lembrando que eu e o Fernando tocávamos, junto com o Erick, na banda Leigos, que foi algo muito importante na minha vida).

No fim de fevereiro, ele participou de um show inusitado que fizemos no Bolshoi, um show em que não toquei nenhuma música conhecida pelo público, com uma banda “improvisada” e ousada, que não era o Sindicato, embora tivesse a participação do Gabriel Cruz na percussão. Foi muito legal, nesse show, a interação, a novidade, a presença do Chelo (do Dead Smurfs), com quem fiz uma música (“Farinha do Desejo”). Eu e o Chelo temos uma dupla sertaneja: Waldi e Redson, que deve render mais parcerias também...

Outr’análise: Você diz que prefere não apontar influências ou referências. Mas o que você tem escutado ultimamente? E como você ouve música?
Diego: Continuo descobrindo a vanguarda paulista (ouvindo muito Arrigo Barnabé e O Rumo). Em São Paulo comprei um do Itamar Assumpção, outro do Língua de Trapo e o DVD do Luiz Tatit. Além disso voltei a ouvir Beck, Titãs e Nick Cave, com freqüência. Assim... depende o dia, sabe? Tem dia que estou mais pra Roberto Carlos, em outros estou mais pra Radiohead e em outros estou mais pra Dead Kennedys... e tem dias que prefiro o silêncio.

Tem música que escuto varrendo a casa e outras dedico mais atenção, como o disco “Uma Tarde na Fruteira”*, que curto ouvir sozinho no quarto, no escuro, pois traz muitas imagens em minha mente. Tem alguns compositores, como o Belchior, que curto ouvir primeiro com o encarte na mão pra prestar atenção nas letras e depois escuto focando na música, nos arranjos, na melodia. Quando estava RE-ouvindo o “In Utero” do Nirvana, RE-lembrei das minhas primeiras bandas.

Outr’análise: No início do ano, a história do garoto Yoñlu se espalhou pela Internet. Ele cometeu suicídio em 2006 e deixou uma vasta produção musical, que está sendo redescoberta agora. Você acha que essa é uma das características da música, se transformar em um legado que ultrapassa seu autor?
Diego: Sim. Não só da música, mas a arte, em si, ultrapassa o individuo. Na música “O Show vai continuar”, digo:

“Mesmo sem mim, sem você, sem nós dois
O Show vai continuar
(...) Se eu desistir, me matar ou enlouquecer
O Show vai continuar.”

Ou seja, apesar da lista de fracassos do indivíduo, o Show, a vida, o mundo continuam. E, com uma arte sincera, o indivíduo pode deixar sua impressão digital no mundo, sua marca que diz: “Estive aqui”. Muito triste a história desse garoto (Yoñlu), que parece ser um gênio extremamente sensível e em uma situação de desconforto com a vida. Penso muito no tema do Suicídio (estava lendo no Camus sobre isso).

Às vezes é muito difícil continuar, mas cada um faz as suas escolhas. Mas quero crer que o mais importante é viver a vida agora do que ficar se estressando com o futuro, com a eternidade, com o legado. Acho que eu deveria idolatrar mais o Tom Zé e o Rollando Boldrin, que sobreviveram e estão aí ainda com seus cérebros vivos, do que endeusar o Ian Curtis, o Kurt Cobain, o Nick Drake ou o Yoñlu, sabe? É lógico que semana que vem posso pensar outra coisa - a opinião sempre depende do momento em que eu estiver passando...
Outr’análise: Onde é fácil te encontrar? Quais os lugares que você gosta de freqüentar?
Diego: Gosto de ir à feira (sou apaixonado em pastel!), cinemas e, eventualmente, em shows de rock. Vou muito à biblioteca também. Mas sou muito caseiro. Raramente abro mão de minha privacidade pelo desconforto na multidão. Gosto de ficar em casa lendo, compondo, vendo um bom filme e conversando com alguém que amo e também gosto de visitar meus amigos mais próximos.

Outr’análise: O que você acha dessa efervescência musical em Goiás? Tá mais fácil fazer rock hoje do que quando você começou, em Senador Canedo?
Diego: Acho muito saudável essa diversidade musical em Goiás - tanto no rock, como na MPB - que contribui pra mudar o estigma de “terra do sertanejo”. Com certeza é mais fácil fazer rock e divulgar a produção hoje do que quando comecei lá no Canedo. Na época não tinha esse “BOOM!” causado pela internet e pelo mercado de música alternativa, que não está nas rádios, e as pessoas ainda estavam muito presas à “cultura do cover”.

Outr’análise: Quando você acha um dia bonito?
Diego: Quando estou de bem comigo. Isso pode ser sozinho em casa lendo um bom livro, rodeado por pessoas que amo e com quem possa conversar sem neurose, ou seja, “alguém que depois não use o que eu disse contra mim”**. Um dia bonito pode ser um dia bem simples, comum, daqueles que você dá uma volta, tranqüilo, pela cidade ou quando você está em uma fazenda jogando um futebol com os amigos e falando besteira. Mas, que nem tudo nessa vida: depende.

Outr’análise: É isso, cara, valeu mesmo pelo carinho e vou tentar juntar uma grana pra te ver em Sampa***!
Diego: Aproveita e vê Egberto Gismonti e Naná Vasconcelos também, que será incrível! Valeu digo eu!!!!!

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* Novo disco do cantor gaúcho Júpiter Maçã. No dia 10 de abril, Diego abriu o show de Júpiter no Bolshoi Pub, no lançamento de “Uma Tarde na Fruteira”.
** Referência à Legião Urbana.
*** A Virada Cultural de São Paulo ocorre nos dias 26 e 27 de abril. Diego participa do palco Festivais Independentes, onde também se apresentam MQN, Mundo Livre S.A., Macaco Bong, entre outros. Informações: www.viradacultural.org

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