nem sou fã do Zeca Baleiro,
embora respeite certas iniciativas dele (como a de lançar o
cd póstumo de músicas inéditas do Sérgio Sampaio, o belo CRUEL...
por exemplo).
o
kleuber me falou de um texto dele apaixonado sobre o Rock
ressaltando que, muitas vezes,
quem fala mal do rock é porque ama o rock.
acabei de achar o texto aí na net... muito bom!
concordo que o roqueiro é um reaça (uma "contradição em termos"), em muitos casos.
[e digo isto botando um Chuck Berry no som...
"Se tentassem dar outro nome ao rock and roll,
podiam chamar-lhe 'Chuck Berry'"
(John Lennon):
( lembra da minha crônica: Onde é que está meu rock'n'roll ?)
agora,
lê o baleiro
e me diz:
http://www.istoe.com.br/colunas-e-blogs/coluna/94907_ROCK+PAI+POP+FILHO
ROCK PAI POP FILHOFoi o rock que arrombou a porta e por essa picada aberta agora desfila um teatro de horrores sem estofo e a serviço de uma triste ideologia
O rock surge na década de 50, depois da Segunda Guerra, em meio à desolação do mundo e à necessidade de recriá-lo. O rock vem com a força de um furacão e mexe de forma definitiva no comportamento das pessoas e com a indústria cultural como nunca dantes visto. É transgressor, subversivo, questionador, abusado, rompe com valores estabelecidos, afronta a caretice vigente. A eclosão do rock coincide com o surgimento da televisão e é a pedra filosofal do que se conhecerá adiante como cultura pop.
Chego então aos tempos de hoje. Para constatar como a cultura pop, criada a partir do advento do rock’n’roll, foi-se diluindo, diluindo até chegar a um ponto que equivale à sua própria negação. “O que ontem era novo, hoje é antigo”, já atestava o poeta Belchior nos anos 70. Seu verso poderia derivar para “o que era transgressor hoje é careta”, tamanha a inversão de valores que há no mundo atualmente.
Pois o “Big Brother” e todos os sórdidos reality shows que infestam a tela da tevê, a publicidade cínica vestida de rebeldia cosmética, o circo do show biz e seu ridículo manual de atitudes, a pândega vale-tudo dos programas de humor, o rock programático e meloso das bandas emo, tudo que existe de mais acintosamente anti-rock’n’roll no mundo hoje é, por incrível que pareça, cria do rock. Foi o rock que arrombou a porta e por essa picada aberta agora desfila um teatro de horrores sem estofo e a serviço de uma triste ideologia: o benefício próprio, o enriquecimento fácil, o culto à fama mais que ao trabalho, a desmoralização de toda e qualquer virtude, o desprezo pelo passado e pela memória e o hedonismo mais perverso e sem charme de todas as eras. Se o rock lutava contra o estado de coisas do seu tempo, seus herdeiros lutam para manter as coisas como estão.
Caos x cosmo
Os místicos creem que após todo caos surge um cosmo, como os historiadores sabem que após toda idade de trevas surge uma nova era luminosa. Nunca porém o mundo esteve envolto nesta névoa de instantaneidade e fugacidade que a tecnologia digital nos trouxe. Em nenhuma outra época a ditadura do presente e a conectividade foram tão valorizadas como agora, por um motivo talvez banal: há ferramentas para isso. “Se há ferramentas, por que não usá-las?” – perguntam-se todos.
Conheço umas três ou quatro pessoas que optaram por não ter celular. Engana-se quem pensa que vivem no mato, como ermitões em busca da paz e da sabedoria perdidas. Não, são pessoas urbanas, ativas e ligadas à comunicação. Não têm celular para não perderem outra conexão, mais cara a elas: a conexão consigo próprias.
O mundo hoje é pura evasão. Não à toa, há um boom notável no turismo internacional. A arte aspira ser só entretenimento. E a informação transformada em espetáculo. Mesmo territórios quase sagrados, como a literatura, agora vivem no fio da navalha. Recentemente foi publicada bombástica notícia. Dois adolescentes adaptaram clássicos da literatura universal para o Twitter. Ou seja, transformaram a literatura no oposto do que ela pretende ser. O que era fruição lenta, reflexiva, prazerosa e gratuita, agora é expressa, rasa e a serviço da performance, do tipo “ganha quem ler mais!”...
O mundo futuro será alimentado de informações segundo a segundo. Eventos interativos a todo instante. Tudo dividido entre todos os mortais. Menos o dinheiro, o afeto e o respeito.
Um comentário:
Olá... eu sou nova ainda pra saber qual é a desse tal de rock and roll (ou rock errou, quem sabe). Sendo assim eu pergunto: É errado eu preferir o Arnaldo Antunes sozinho e não na companhia dos Titãs?
Pergunto também se é pecado gostar da Pitty e se é normal gostar dos Engenheiros do Hawaii.
Sério, eu já tentei ser uma pessoa normal e fazer como todo mundo faz, odiar os Engenheiros do Hawaii, mas não consigo.
A propósito. Dia desses eu estava a dialogar com um grupo de indies que usam All Star com visual "mamãe não sei fazer a barba". Eu falei a eles que Los Hermanos era ruim e o grupo só não me jogou na fogueira pois não estamos na Idade Média e na ocasião não havia fósforo e lenha.
Isso tudo é normal ou sou eu que não consigo viver em sociedade?
Postar um comentário