domingo, 3 de outubro de 2010

POWER TO THE PEOPLE?

Texto meu no DM:



POWER TO THE PEOPLE?

Redijo as observações a seguir ouvindo Lennon cantar “Power to the people!” (Ainda devo escrever porque sou mais John do que Paul, mas deixo isso pra outra ocasião...), que me instiga a fazer um comentário geral sobre a nossa “democracia”.

A democracia brasileira foi bem retratada na semana passada pelo cartunista Almir, gênio daqui do DM, numa charge em que o palhaço Tiririca abria os braços e dizia para o Congresso: “Fomos feitos um para o outro!”

Após soltar uma gargalhada diante da charge, pensei no quadro dramático: Quantos brasileiros morreram ou foram perseguidos em nome da democracia, para, agora, a política virar essa palhaçada “ficha suja” que assistimos diariamente pela TV (“Teatro dos Vampiros”)? Triste!

Hoje é o dia em que muita gente, sob protesto, votará em palhaços; outros em apresentadores de televisão, em pastores, em empresários ou em representantes dos interesses das classes dominantes.

Andando pela cidade vejo pichado nos muros: “Eleição é ilusão”. Navegando no twitter, Lobão diz: “NULO NELES!”. Diante disso, poderíamos rememorar a velha teoria da má-fé do Sartre: “escolher não escolher É escolher!”. Mas escolher, engajar-se, é muito mais que fazer da democracia apenas um conceito eleitoreiro ou, na outra ponta, defender um anarquismo de fachada.

Eu também tenho que tomar minha decisão para teclar lá na urna eletrônica. Vou lá com o “cabresto” que nos obriga a votar. Muitas vezes já votei no “menos pior” ou já votei em alguém “contra” outro alguém. Hoje muitos cidadãos estão encurralados nesse tipo de opção.

Enquanto isso, você deve estar pensando que hoje é um dia fundamental para a decisão dos rumos da história do país e do Estado, sem saber das decisões tomadas nos bastidores. Faz o seguinte...vai lá no youtube e digite: “Eike Batista, Roda Viva”. O cara, um dos mais ricos do mundo, apoiou o Serra e a Dilma e acha que as bases do Brasil estão estabelecidas. Depois de ver a entrevista, compre o livro Democracia Totalitária do intelectual português João Bernardo, para pensar mais sobre o assunto.

Quando Lennon cantou “Power to the people” (poder para o povo) não deve ter pensado nisso aí...

Não use o poder do seu dedo para o gozo de corruptos!

Pense bem!

ERRATA

Semana passada, cometi o lapso de dizer que a patente do historiador Nelson Werneck Sodré era de coronel, enquanto era de general. Sodré, que era um pesquisador rigoroso e extremamente disciplinado, ficaria incomodado com esse meu equívoco. Foi mal aí!

COLECIONADOR DE JORNAIS

Sodré tinha o costume de guardar jornais como documentos históricos. Percebo no texto dele uma narrativa que dá voz aos personagens históricos. Ele compunha um quadro historiográfico citando trechos de jornais, mostrando as diferentes versões dos fatos e depois vinha com sua interpretação, desconstruindo as visões dos jornais a serviço de interesses dos grupos dominantes.

LIBERDADE

“Só quem perdeu, algum dia, a liberdade, pode avaliar quanto ela vale” – frase de Sodré no seu livro de memórias sobre o golpe de 64, A fúria de Calibã. Nesse livro ele elogia as crônicas políticas de Carlos Heitor Cony, publicadas após abril de 64 no jornal Correio da Manhã (reunidas em O Ato e O Fato). Cony que não tinha militância política, antes da ditadura, diria Sodré, teve uma atitude de dignidade ao encarnar o apego à liberdade que todo intelectual deve ter.

ANGÚSTIA

Para o existencialismo a liberdade é angustiante. Diante da possibilidade de escolha me angustio. É o que sinto hoje. Tenho argumentos contra tal candidato; mas, nessa conjuntura atual, falar mal de um significa beneficiar o outro. Se calar também pode ser uma opção política.

Estar atento ao jogo – essa é a regra!

Nenhum comentário: