PRÓLOGO
A rainha do rock-brazuca, a mutante Rita Lee (tradução de Sampa, pro mano CaRetano ), tocará no próximo sábado (21) num palco goianiense – no mesmo dia que completará 21 anos em que Raul Seixas “vive EM sua obra”. Diante desse fato convergente de dois mitos, eu (“Raul do Cerrado”, segundo o bebum da esquina, e “Neo-tropicalista”, segundo a revista Rolling Stone) decidi, daqui do meu pontinho-de-vista, escrever a istória (com i mesmo – vide Millôr Fernandes) a seguir:
CRÔNICA
Três personagens: um emo, um indie e um raulseixista.
1 – O emo é, segundo alguns, um dos modismos dominantes, na época do Febeapá cibernético-contemporâneo. O esnobismo emo se sustenta na pose (caras, bocas e franjas) de quem se sente o mais “muderno” do momento. Dizem que todo emo nega ser emo. Agora é From UK? Entre tantos, no fim, o emo parece ser o “mêmo” de sempre, com outra embalagem.
2 – O indie tupiniquim é, no geral, uma tribo social anti-social, típica dos filhos das classes abastadas, que negam tudo o que cheira a “popular”. Assim, manifesta-se como uma variação do espírito aristocrático (autocrático), uma espécie inserida no que Euclides chamou de “civilização de copistas”.
3 – Já o raulseixista simboliza um conservadorismo roqueiro idealizador do passado, um “saudosismo do não-vivido” hostil a toda novidade-pop. Às vezes o raulseixismo é anti-Raulzito (assim como a coisa mais anti-dialética/marxista foi o stalinismo), por não ser uma “metamorfose ambulante” iconoclasta.
Em uma metrópole provinciana, como a nossa bela Goiânia, é muito comum encontrar todos esses tipos sociais neofascistas perambulando por aí, pelos bares da vida.
Imagine um (des)encontro dos três-tigres-tristes...
O emo (fenômeno social “dado”) passa balançando seu dadinho de pelúcia. O indie, com sua cara-de-bunda, escuta, no seu foninho/mundinho, qualquer coisa que a gente desconhece, pra se afastar o máximo possível da “realidade decadente”. O raulseixista, com camisa do Pink Floyd, toma pingorante e pensa o quanto o passado (antes dele nascer) era melhor.
Os três caras se encaram. O emotivo se esquiva com o olhar. O indie-ota com seu olhar superior, por cima do óculos. O raul-chiita dá outro gole na catuaba-com-coca e arrota.
Logo, não há dialogo.
Onde Rita Lee entra na istória? Ora, o emo não quer saber dela, pois não é a última-nova-novidade bombando na net. O indie diz “prefiro Arnaldo”, mas já começa a esquecer o Lóki que caiu, um pouco mais, nas graças do público, ultimamente. O raulseixista cospe frases prontas do tipo “Rita é uma vendida”.
Cada um segue seu caminho-inho-inhozinho.
Enquanto a debochada Lee (en)canta “O que foi que aconteceu com a música popular brasileira?” e o genial Raul na atual “A verdade sobre a nostalgia” dizia “tudo quanto é velho eles botam pra eu ouvir”, penso e digo: “nem toda novidade é o novo, meu povo!”
MORAL DA ISTÓRIA
Não tem moral nessa istória, mas só a busca do equilíbrio aristotélico (tão fora de moda nos círculos “pós-modernos”)... nem dogma da nostalgia; nem apologia cega da novidade.
EPÍLOGO
“Tudo/ que/ li/ me/ irrita/ quando/ ouço/ Rita/ Lee” (Paulo Leminski).
Notas:
1- Título vem de música do rei-lóki, Arnaldão Baptista
2- CaRetano: Apelido do “bai-huno” tropical, dado pelo Lobão
3- Febeapá: Festival de Besteira que Assola o País (no vocabulário de Stanislaw Ponte Preta, nos anos 60)
Publicada no jornal Diário da Manhã, 15/08/2010:
http://www.dmdigital.com.br/index.php?edicao=8313&contpag=1
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