quinta-feira, 29 de maio de 2008

no jornal Tribuna do Brasil


Matéria que saiu no jornal Tribuna do Brasil:



http://www.tribunadobrasil.com.br/?ntc=65045&ned=2330


Um sujeito tão normal
Autor: Henrique Bolgue




Os novos rumos da revelação goiana Diego de Moraes e o Sindicato



Os últimos meses foram cheios para Diego de Moraes. Ganhou concursos como o TacabocanoCD, que lhe rendeu a gravação do EP Reticências... e gravou 12 horas nos estúdios da Trama depois de ganhar o concurso da Capricho. Apareceu em revistas especializadas como a Rolling Stone e tocou recentemente na Virada Cultural paulistana, um evento que reuniu alguns de seus ídolos como Egberto Gismoti, Naná Vasconcelos e Os mutantes. Neste sábado, Diego de Moraes e o Sindicato é uma das bandas que fecham o dia no festival Bananada, em Goiânia.
Depois de aparecerem na Rolling Stone chegaram a propor uma mudança para São Paulo, mas Diego acha que ainda não é a hora e continua vivendo em Senador Canedo, cidade há 18km de Goiânia. Ali ele vive a "rotina de fritura" de um jovem normal. Com 22 anos está fazendo mestrado em história na Universidade Federal de Goiânia e se vê às voltas com a leitura de filósofos como Álvaro Vieira Pinto e o marxista heterodoxo João Bernardo.
Foi lá em Senador Canedo que Diego começou a se envolver com a música. Foi baterista de bandas punk e nas horas vagas dedilhava o violão enquanto escrevia poemas e histórias que viriam a ser grande parte das músicas do EP, que escreveu com 18 anos. Na época ele era fã de Beatles e Nirvana. Agora, depois de ser comparado a nomes como Arrigo Barnabé e Tom Zé começou a descobrir outros nomes da MPB. Walter Franco é um deles, uma espécie de ídolo inconsciente. "Soube depois, que (Walter Franco) foi influência pro Arnaldo Antunes - e eu já era apaixonado pela parte da obra dos Titãs, que conta com a poesia concreta do Arnaldo", conta.
Nada mais normal numa época de excesso de informação; ele mesmo já escreveu algo sobre esse caos na letra de Amigo: "Amigo, eu sempre tento ser um pouco diferente, mas eu me sinto tão igual." Diego, que já tem "uns cinco discos dentro da cabeça", foi tanto vítima quanto agente da internet. Sofreu com comentários maldosos quando apareceu na cena goiana, só com sua voz e violão. Mas também se beneficiou da disseminação de suas músicas, e cita o Vangart como exemplo de banda que sentiu o mesmo. Mesmo assim não deixa de lembrar o papel dos shows. "A internet divulga, mas o show convence mais", explica.
Para os novos trabalhos Diego quer aproveitar o amadurecimento que teve em conseqüência das andanças pelo Brasil. Mais do que as conversas com outros músicos e os novos horizontes que foram abertos, ele entrou em conflito com seu próprio modo de fazer música. Ele diz ser um desafio resumir sua explosão interior. "Tem muita música antiga que mais parece uma dissertação musicada, já as novas tem um cuidado maior não só com o conteúdo, mas também com a forma", explica.
A forma das músicas também é pensada nas experiências que faz com o Sindicato. Muitos dos rótulos que a banda recebe vêm da mistura que esses trabalhadores fazem lá atrás; recursos tecnológicos que Diego não tem acesso no seu "laboratório" privado. O sindicato é formado por Aderson Maia que cuida do contrabaixo, do teclado e do sintetizador; Gabriel Cruz na percussão, Eduardo Kolody nas guitarras, violão e viola, Danilo Teles na guitarra e contrabaixo e Rogério Pafa na bateria. Diego conheceu os componentes por uma amiga em comum da banda Demosonic e desde então vêm criando juntos, "Apresento uma composição que pari no meu quarto e vamos trabalhar os arranjos em conjunto, ou seja, criar em cima de uma criação", explica Diego.
O som indefinível da banda teve uma explicação dada pelo percussionista da banda, Gabriel. "Uma vez ele disse, entre nós, que o que a gente faz é algo como se o Geraldo Vandré aceitasse tocar com os Mutantes". Mesmo remetendo à época em que diversas utopias foram apresentadas, Diego não tem nada de utópico, como ele mesmo já disse. Sua música é mais voltada a temas universais, juvenis ou não. Quando perguntado sobre pelo que faz a música que faz ele diz: Faço pra continuar vivo e pra me sentir vivo. Por terapia, pra agüentar essa angústia que é viver nesse mundo caótico. Prefiro gastar dinheiro com corda pro violão do que com um psiquiatra", desabafa.
Diego é fruto de uma época em que se percebe a falência de projetos e visões políticas que levam mais à discórdia do que ao consenso. Ele vê uma saída para sua angústia: os sonhos. "Não existem grandes utopias, mas existem pequenos sonhos que alimentam minha vontade de mudança e a minha força de viver. Meu avô dizia: "O homem nasce, cresce, pára de sonhar e morre". Acho que ele morre ao parar de sonhar (e existem muitos moribundos caminhando aí pelas ruas..., não?)", finaliza.



Fonte : Tribuna do Brasil
Data : 23 de maio de 2008

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