quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Entrevista comigo publicada no jornal "O Popular"



Entrevista publicada no jornal O Popular - 10/01/2013

O MASCATE 
TROVADOR


Entrevista e matéria por: Sebastião Vilela Abreu



Aos 14 anos, o músico Diego de Moraes ouviu, pela primeira vez, Bob Dylan no cinema. No filme “Hurricane – O Furacão”, que relata a história de um boxeador negro, vítima do racismo, preso injustamente por assassinato. “Depois soube que Dylan foi processado pela canção “Hurricane” e essa canção ficou sendo emblemática na luta contra o racismo nos Estados Unidos e no mundo”, contextualiza o músico cuiabano de nascimento e goiano por formação, que mora em Senador Canedo desde criança.
A sonoridade da canção e o impacto que ela tinha no filme impressionaram Diego, justo na época que começava a ouvir rock, período pós-fase evangélica. Depois de uma década, já com o domínio da obra completa de Bob Dylan, Diego ainda continua impressionado com o músico norte-americano. Hoje, apresenta-se no café do Centro Municipal de Cultura Goiânia Ouro, ao estilo Dylan. “Farei um show no formato voz e violão, como um trovador folk, como a primeira fase de Bob Dylan”, diz.
O show do mascate cuiabano-goiano integra a programação da mostra Histórias do Cinema e do Povo de Goiás, parceria da UFG com o Centro Cultural Goiânia Ouro. No encontro programado para às 20 horas, o artista vai conversar também com o público. Falar de sua experiência musical.
Na entrevista a seguir, ele adianta alguns tópicos que serão abordados na conversa. Fala do seu surgimento no cenário musical com a banda O Sindicato até a sua participação na banda Pó de Ser, projeto que desenvolve paralelamente à carreira solo. 

O que um rapaz de 20 e poucos anos, do Centro-Oeste brasileiro, tem em comum com Bob Dylan?


Sou fã do Dylan, mas não quero ser um imitador dele, tanto que absorvo outras influências. O que me interessa é a atitude, o gesto representado por cada disco, cada intervenção dele como artista. Além do aspecto do artista mutante, que está sempre em transformação dialética, experimentando diferentes formatos para o seu trabalho, também me interesso em produzir vinculado ao aqui-agora. Nesse ponto, Dylan sempre sintonizou sua obra com os debates públicos, políticos-sociais-culturais.


O que sua música tem a ver com o cinema, já que seu show e palestra serão apresentados em uma mostra cinematográfica?

Gosto de pensar cada canção como uma trilha sonora de uma história, por isso me utilizo de vários estilos musicais por tratar de temas diferentes – às vezes falo de relacionamentos, outras vezes de questões sociais. Em 2009, atuei no curta-metragem "Oscilação".
 Estamos em uma fase da história da música em que o vídeo e o áudio estão em um grande diálogo. Com o Youtube, o audiovisual torna-se um aspecto fundamental para divulgar e apreciar música. No ano passado, tive a felicidade de fazer meu primeiro clipe “Todo Dia”, produzido pela Digital5, do ThiagoLemos, que é um agente cultural muito presente na produção audiovisual goiana.



Numa definição, sua música é folk, caipira, sertaneja, country? Ou sem rótulos?


Quando faço música, não penso em rótulos. Pensar em rótulos é uma lógica da indústria cultural, que precisa colocar os artistas em prateleiras. Gosto muito da frase do Gilberto Gil: “Existem várias formas de fazer música brasileira, eu prefiro todas.” Além do Dylan e do tropicalismo, também me interesso por artistas que foram chamados de malditos da MPB (Sérgio Sampaio, Walter Franco, Rogério Skylab, Tom Zé) e pela chamada vanguarda paulista dos anos 80 (Itamar Assumpção, Luiz Tatit e Arrigo Barnabé). Gosto muito de moda de viola – tanto que montei uma dupla, Waldi & Redson. Gosto de sertanejo de raiz mesmo. Do mesmo jeito que gosto do folk de Bob Dylan e Johny Cash também curto Tião Carreiro e Pardinho.


Dos diversos projetos musicais que desenvolve em qual atinge a plena satisfação? Se é que isso é possível.


Estou muito feliz com esse show atual, “O Mascate”, pois tem me permitido fazer um link com vários lados da minha trajetória. Sem falar que a banda que está me acompanhando está muito animada e temos um nível de diálogo muito bom, muito tranquilo. Só participo de projetos musicais que me dão prazer. Gosto de todos os projetos de que participo e participei, como a banda Diego e O Sindicato. Costumo dizer que o meu maior desafio musical é a banda Pó de Ser, pois é uma banda que reúne diferentes músicos que atuam em diferentes cenários da música goiana. Acho que o Pó de Ser é o meu projeto que está mais na fronteira, no limite de experiências; me orgulho muito dos meus parceiros e do que fazemos juntos.

Já que vai falar sobre as relações musicais de Goiás, como situa o mercado goiano na atualidade?


Um mercado contraditório, com pontos positivos e negativos. Em termos positivos tem espaço para vários estilos. Aqui temos um forte circuito de rock alternativo, samba e MPB. Enfim, no aspecto diversidade cultural, a riqueza artística em Goiânia está em um bom momento. Agora, existem problemas, como a questão de valorização dos artistas. Mas, no cotidiano cultural, muitas vezes os artistas passam por saias-justas, quando vão receber o que têm direito da bilheteria. Esse problema da desvalorização dos artistas é uma questão grave, pois o técnico de som, quem está no bar recebem e, muitas vezes, o artista não recebe ou tem que brigar pelo que é seu de direito. Mas tem que ficar claro que, sem a música, não tem o evento. Esse debate sobre a valorização dos criadores da cultura é amplo e passa por outros setores além da música (como teatro e cinema) e é uma das pautas do Fórum Permanente de Cultura.

E qual o seu sonho, musical, ainda não realizado?


Em termos de gravação: sonho em gravar com o produtor musical Fernando Catatau (guitarrista da banda Cidadão Instigado) e com o André Abujamra também. Em termos de show: sonho em fazer algo com o Tom Zé, que é um herói pra mim. Ano passado tive a alegria de cantar com o gênio Jards Macalé. O próximo que sonho é o Tom Zé.





Por que o codinome O Mascate?


Era um apelido que eu tinha na fase do rock, por volta dos 15 anos. Eu tocava bateria em uma banda em Senador Canedo, chamada Nóia Catódica e, como meus pais eram comerciantes, meus colegas me apelidaram de Mascate. Esse apelido ficou restrito àquele círculo de amizades. Depois, muitos anos depois, quando eu já estava cursando História na UFG, vim a perceber a importância cultural dos mascates na história brasileira, pois eles, quando viajavam, levando seus produtos, acabavam fazendo intercâmbios e até levando notícias em épocas nas quais os meios de comunicação não eram tão desenvolvidos e não chegavam em todas as regiões da nação. A parti daí, decidi reavivar aquele meu apelido da adolescência como um arquétipo, uma metáfora para o trabalho de intersecções que realizo na música aqui. Agora estou finalizando meu novo disco que vai se chamar: “Mascate – Aos Trancos e Barrancos”.

2 comentários:

Oficina Cultural Geppetto disse...

É isso aí, Dieguito. Manda ver. Curto seu trabalho, sua postura, sua energia. Siga abrindo estradão mundo afora.

Um Yago disse...

Dia bonito...
chuva choro sopro e..
Muita besteira nos arrasta por este dia chuvoso e umas lágrimas, eu não deveria dizê-lo, escorrem minha face, quando escuto Seu Dia Bonito, rapaz.

A entrevista ficou fiu-fiu. Um dia bonito a ler e cheirar o sucesso do jovem disseminador da cultura goiana.

Abraço, Um Anônimo que é Yago.