Bem legal essa idéia e iniciativa de divulgar a memória da música alternativa brasileira! Inclusive, acabou me rememorando sobre o que significou essa música, com que intenção a produzi e a qual situação respondia (?).
Bom, essa faixa foi a que abriu o nosso EP "Reticências" (2007). Lembro-me que, naquele contexto em que eu estava gravando, graças ao prêmio do Tacabocanocd da Fósforo, pensei:
"Poxa! Minha música vai ser consumida num cenário em que a maioria das bandas cantam em inglês, né?"
Então, com uma sensação de auto-estranhamento, decidi abrir o CD me apresentando, mas falando do que não sou. Não era meu objetivo agredir meus colegas que batalham na música independente, assim como eu; mas queria simplesmente apresentar minha distinção, naquela ocasião. É como dizem: "cada um na sua"... e, naquela faixa específica, eu falava qual era a minha.
De lá pra cá, mudei muito minha forma de compor, hoje trabalharia esse mesmo tema de outra maneira; porém, acho que ainda tenho muito da visão expressa ali, por exemplo`s...
"Ó meu Brasil, varonil, imbecil no primeiro de abril, te quero de um jeito que ninguém nunca viu - nem o Henfil" (enfim, não compactuo com essa idéia difundida por aí de que "o futuro já chegou" - é preciso definir pra quem chegou, cara pálida! - e continuo admirando aquele chargista, rebelde do traço, que dizia: "O humor que vale pra mim é aquele que dá um soco no fígado de quem oprime").
"Tem gente que acha chato/ quem não tem cão caça com gato" (continuo adepto do "do it yourself": o importante é fazer, do jeito que conseguir, mesmo que incomode, que desafine o coro dos contentes).
"Tem gente que até quer/ Eu gosto até do Odair José" (já assumia meu lado brega).
"Meu ouvido colonizado..." (já colocava o problema da submissão: o que o Nelson Rodrigues chamava de "complexo de vira-lata do brasileiro". E essa questão da dominação era posta de forma irônica, tendo como fundo uma influência do The Who - toquei bateria nessa música, feliz da vida, querendo ser o Keith Moon).
Aô, vontade danada de voltar pra batéra, sô!
O que me importa é o gesto que representou no contexto em que foi lançada, enquanto provocação e ironia. Não foi uma música feita para a "posteridade" (como o trampo de Tom Jobim que dizia "trabalhar para a estátua", ao fazer uma canção). A minha era bem modesta, sendo uma intervenção direta no cenário que me recebia, naquele momento. Talvez, por isso mesmo, essa música tenha chamado tanta atenção, a ponto de muitos jornalistas fazerem referência à ela, pra me situar no meio do rock goiano, pois é bem rock... mesmo terminando num frevo (que era quando eu jogava confetes nos nossos primeiros shows, naquele embrião do Sindicato) e questionando a própria cultura rocker que consumo e integro.
Ah! E ainda quero ser o Keith Moon; pois continuo achando a bateria o instrumento mais legal... o cara fica lá atrás, se divertindo, sem estar exposto aos tomates, né não?
;O)
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