Assistindo no youtube um depoimento do poeta Ferreira Gullar sobre o CPC da UNE (destruído, com o golpe militar, em 64), achei a seguinte passagem que achei muito bonita, olha...
"A primeira função social da arte é a arte mesma. Porque a arte, primeiro, ela amplia a vida das pessoas. Ela dá alegria às pessoas. Ela enriquece a vida das pessoas. A sociedade é inventada. A vida é inventada. Nós nos inventamos a nós mesmos – não arbitrariamente, mas, se eu tenho determinadas necessidades eu me invento na direção das minhas necessidades. E se eu tiver capacidade, eu vou avançar e tal. E, de uma maneira ou de outra, eu me invento escritor, eu me invento jogador de futebol, eu me invento fotógrafo, eu me invento cineasta, jornalista, compreende? Então, a vida ela é inventada. Então a arte é parte desse mundo, é parte disso. Ela não é verdade, ela não tem por função dizer a verdade 'verdadeira' que ninguém viu. Pelo contrário, o Picasso disse: 'a arte é a mentira mais verdadeira que a verdade'. É mentira quando o Drummond diz: 'como aqueles primitivos que carregam consigo o maxilar inferior dos seus mortos, eu te carrego comigo, tarde de maio.' É mentira, mas é lindo, né? Então é isso. A arte é isso, tá entendendo? Então a função da arte... O cara lê isso, ele fica feliz, a vida dele é mais rica, entendeu? Agora, se ele pode, além disso, mudar a cabeça das pessoas e, como nós tínhamos aqui uma ditadura, e nós tínhamos que lutar contra ela, então nós fizemos uma peça como “Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”, que é uma peça que nós caprichamos nela, como dramaturgia e como literatura, ela era uma coisa que denunciava o regime, e, ao mesmo tempo, ela era bonita, ela era engraçada, ela era rica e tal. Então pode fazer as duas coisas."
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