domingo, 12 de dezembro de 2010

Waldi & Redson: “um tornado em minha vida”

Estrada Goiânia-Uberlândia, 04 de dezembro, sol rachando, caminho para o sucesso.

João Dinheiro no volante e no banco de trás, Waldi e Miguel Navalha, preocupados se chegariam a tempo para uma entrevista na TV de Uberlândia, na hora do almoço. João pisava no acelerador, atravessava o Rio Paranaíba e se sentia numa cena do filme “Estrada da Vida”.

Chegaram. Waldi, bandoleiro do Canedo, se encontrou com o violeiro da Babilônia, Redson, seu parceiro de modas e chateações. Aqueceram o gógó com uma pequena dose de cachaça e foram para o complexo global de Berlândia (MGTV). Como o estúdio só suportava 3 integrantes mais a apresentadora e os câmeras, o baixista João Dinheiro foi tirar um cochilo na casa da senhora sua mãe.

Antes de começar a entrevista, a apresentadora queria entender o que era a dupla – se era rock ou sertanejo universitário. Não era nem uma coisa, nem outra. Eram dois discípulos junkies de Léo Canhoto e Robertinho, tocando a verdade doída de suas vidas, nos acordes de suas canções rancheiras. Chegaram a proibir Waldi de aparecer com seus óculos escuros, pois consideravam isso um desrespeito com o telespectador. Nem que ele fosse o Waldik Soriano ou o Zé Rico! Logo, a dupla entenderia que a jornalista não entendeu, quando fez a chamada: “banda de rock com nome de dupla sertaneja”. Tudo bem. O que importava era mostrar a sonzeira para os corações apaixonados das redondezas. Tocaram um trecho de “Trêta Timbrêra”, clássico que conta um pouco da história da dupla.

Da TV foram para uma tarde de autógrafos pelas padarias, botecos e esquinas da cidade. Depois de uma noite de festança, graças aos seus 15 minutos de fama, dormiram sonhando com o show que os consagrariam na tarde do domingo seguinte. Após acordarem, comeram pão de queijo mineiro, trazido de Araguari pelo empresário Luciano Aparecido e partiram para o ensaio dominical, com seus grandes sucessos: “FOB (Fura Olho de Brother)”, “Boi Araújo”, “Minha florzona” e outras pérolas que podem ser escutadas em: www.myspace.com/waldieredson .

No hotel, Waldi & Redson e banda, foram surpreendidos, novamente, por fãs enlouquecidas para tirarem, pelo menos, uma foto. Atenderam gentilmente a todas, entraram na vanzinha e vazaram para a praça onde aconteceria, logo mais, o esperado show. Pelo vidro da van, o baterista Barrabás percebeu a aglomeração de pessoas em torno do palco, gritando: “Ah... Minha Vida Empanzinada”. Miguel Navalha coçou a barba e pensou: “É... vai timbrar!”.

A um passo de alcançarem o auge do sucesso, após subirem os degraus do palco, prestes ao início do espetáculo... um forte vento refresca os cangotes suados dos nossos heróis. Miguel Navalha diz: “timbrô!”. E o céu diz: “TIBRUM!!!”. E não é que timbrou, trovejou e encharcou? Depois dos 15 minutos de fama, era a hora dos minutos de LAMA. Em 2 segundos Waldi estava totalmente molhado. Redson tentava proteger sua viola, seus dreads, sua escaleta, sua guitara e... principalmente, sua vida. A bateria de Barrabás era arrastada pelo vento. João Dinheiro, apedrejado pelos granizos, via muitos da platéia subirem no palco, tentando se salvar. Enquanto Miguel Navalha assistia, de camarote, seus investimentos musicais indo para o ralo. A luta pela sobrevivência no olho do furacão! A impotência humana diante do show da natureza! Era água, vento e granizo que não acabava mais! A água da chuva se misturava às lágrimas da dupla e de seu público! Catástrofe! Cataclisma! Absurdo! Inacreditável! Onde estaria a Arca de Noé? Seria o Apocalipse?

De repente, tudo vai se acalmando aos poucos e Waldi começa a rir, sem entender e sem saber que os equipamentos estavam praticamente arruinados. Ruína! O show da natureza, arrasando quarteirões, com participação do Tony Tornado (batizado por Danislau), havia destruído o sonho (de fama, dinheiro e mulheres) dos dois meninos do Ranchinho dos Ipês. Se secando, a dupla olhou para o horizonte cinza, ergueu a cabeça e prometeu voltar àquela cidade em um dia lindo de sol, para tocar os sucessos prometidos aos vivos na TV.

Estrada Uberlândia-Goiânia, 05 de dezembro, noite alta, vida empanzinada.


[publicado no jornal Diário da Manhã]

Um comentário:

Gabriel Cerveza disse...

Não conseguiria descrever melhor o acontecimento. Bom termos sobrevivido.