terça-feira, 1 de junho de 2010

Da Condição de Estar Só (de Edival Lourenço)

Encontrei esse belo poema do escritor Edival Lourenço

na Antologia “A poesia Goiana no Século XX”,

organizada por Assis Brasil (de 1997),

que encontrei em um sebo na Vila Nova
esses dias pra "traiz" aí ...

Copio aqui pra gente ,
pois coisa boa é pra ser compartilhada, né?




Da Condição de Estar Só

(Edival Lourenço)

estar comigo

com meus díspares eus

entre discos e livres pensamentos

nu

pelas varandas da casa

pelos sobrados de meus sentimentos



gosto de estar

comigo

sem relógio & companhia

sem visita & campainha.



com o mundo

com todos

de uma vez

só.



não por vício de solidão

nem por bloqueios ou recalques

como os autofornicários

mas por opção de liberdade

até porque estar só

é canteiro de cultivar

saudade.



gosto de estar só

mente curtindo o corpo

lento envelhecer

rugas distraídas no espelho

de um narciso domado

e a vida vazando

gota após gota

agualém de água

de um vaso trincado.



gosto de estar comigo

entre os sons da casa

o sibilar do vento

a porta a ba

ter



o som de Bach

o redumunho sutil

de minhas idéias

e até a ausência delas

o zumbido incansável

dos sentidos

a minha voz em repouso

na garganta

falando só comigo






(Coisa Incoesa / 1993)

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