"Não aprendi dizer adeus", mas bóra lá nessa minha "festança de despedida" temporária, comemorar esse meu momento de transição, celebrando a vida e seus (re)encontros! Viva a amizade! :)))
Aos 14 anos, o músico Diego de Moraes ouviu, pela
primeira vez, Bob Dylan no cinema. No filme “Hurricane – O Furacão”, que relata
a história de um boxeador negro, vítima do racismo, preso injustamente por
assassinato. “Depois soube que Dylan foi processado pela canção “Hurricane” e
essa canção ficou sendo emblemática na luta contra o racismo nos Estados Unidos
e no mundo”, contextualiza o músico cuiabano de nascimento e goiano por
formação, que mora em Senador Canedo desde criança.
A sonoridade da canção e o impacto que ela tinha no filme impressionaram Diego,
justo na época que começava a ouvir rock, período pós-fase evangélica. Depois
de uma década, já com o domínio da obra completa de Bob Dylan, Diego ainda
continua impressionado com o músico norte-americano. Hoje, apresenta-se no café
do Centro Municipal de Cultura Goiânia Ouro, ao estilo Dylan. “Farei um show no
formato voz e violão, como um trovador folk, como a primeira fase de Bob
Dylan”, diz.
O show do mascate cuiabano-goiano integra a programação da
mostra Histórias do Cinema e do Povo de Goiás, parceria da UFG com o Centro
Cultural Goiânia Ouro. No encontro programado para às 20 horas, o artista vai
conversar também com o público. Falar de sua experiência musical.
Na entrevista a seguir, ele adianta alguns tópicos que serão abordados na
conversa. Fala do seu surgimento no cenário musical com a banda O Sindicato até
a sua participação na banda Pó de Ser, projeto que desenvolve paralelamente à
carreira solo.
O que um rapaz de 20 e poucos anos,
do Centro-Oeste brasileiro, tem em comum com Bob Dylan?
Sou fã do Dylan, mas não quero ser um imitador dele, tanto que absorvo
outras influências. O que me interessa é a atitude, o gesto representado por
cada disco, cada intervenção dele como artista. Além do aspecto do artista
mutante, que está sempre em transformação dialética, experimentando diferentes
formatos para o seu trabalho, também me interesso em produzir vinculado ao
aqui-agora. Nesse ponto, Dylan sempre sintonizou sua obra com os debates
públicos, políticos-sociais-culturais.
O que sua música tem a ver com o
cinema, já que seu show e palestra serão apresentados em uma mostra
cinematográfica?
Gosto de pensar cada canção como uma trilha sonora de uma história, por isso
me utilizo de vários estilos musicais por tratar de temas diferentes – às vezes
falo de relacionamentos, outras vezes de questões sociais. Em 2009, atuei no
curta-metragem "Oscilação".
Estamos em uma fase da história da música em que o vídeo e o
áudio estão em um grande diálogo. Com o Youtube, o audiovisual torna-se um aspecto
fundamental para divulgar e apreciar música. No ano passado, tive a felicidade
de fazer meu primeiro clipe “Todo Dia”, produzido pela Digital5, do ThiagoLemos, que é um agente cultural muito presente na produção audiovisual goiana.
Numa definição, sua música é folk, caipira, sertaneja, country? Ou sem rótulos?
Quando faço música, não penso em rótulos. Pensar em rótulos é uma lógica da
indústria cultural, que precisa colocar os artistas em prateleiras. Gosto muito
da frase do Gilberto Gil: “Existem várias formas de fazer música brasileira, eu
prefiro todas.” Além do Dylan e do tropicalismo, também me interesso por
artistas que foram chamados de malditos da MPB (Sérgio Sampaio, Walter Franco,
Rogério Skylab, Tom Zé) e pela chamada vanguarda paulista dos anos 80 (Itamar
Assumpção, Luiz Tatit e Arrigo Barnabé). Gosto muito de moda de viola – tanto
que montei uma dupla, Waldi & Redson. Gosto de sertanejo de raiz mesmo. Do
mesmo jeito que gosto do folk de Bob Dylan e Johny Cash também curto Tião
Carreiro e Pardinho.
Dos diversos projetos musicais que
desenvolve em qual atinge a plena satisfação? Se é que isso é possível.
Estou muito feliz com esse show atual, “O Mascate”, pois tem me permitido
fazer um link com vários lados da minha trajetória. Sem falar que a banda que
está me acompanhando está muito animada e temos um nível de diálogo muito bom,
muito tranquilo. Só participo de projetos musicais que me dão prazer. Gosto de
todos os projetos de que participo e participei, como a banda Diego e O
Sindicato. Costumo dizer que o meu maior desafio musical é a banda Pó de Ser,
pois é uma banda que reúne diferentes músicos que atuam em diferentes cenários da
música goiana. Acho que o Pó de Ser é o meu projeto que está mais na fronteira,
no limite de experiências; me orgulho muito dos meus parceiros e do que fazemos
juntos.
Já que vai falar sobre as relações
musicais de Goiás, como situa o mercado goiano na atualidade?
Um mercado contraditório, com pontos positivos e negativos. Em termos
positivos tem espaço para vários estilos. Aqui temos um forte circuito de rock
alternativo, samba e MPB. Enfim, no aspecto diversidade cultural, a riqueza
artística em Goiânia está em um bom momento. Agora, existem problemas, como a
questão de valorização dos artistas. Mas, no cotidiano cultural, muitas vezes
os artistas passam por saias-justas, quando vão receber o que têm direito da
bilheteria. Esse problema da desvalorização dos artistas é uma questão grave,
pois o técnico de som, quem está no bar recebem e, muitas vezes, o artista não
recebe ou tem que brigar pelo que é seu de direito. Mas tem que ficar claro
que, sem a música, não tem o evento. Esse debate sobre a valorização dos
criadores da cultura é amplo e passa por outros setores além da música (como
teatro e cinema) e é uma das pautas do Fórum Permanente de Cultura.
E qual o seu sonho, musical, ainda não
realizado?
Em termos de gravação: sonho em gravar com o produtor musical Fernando
Catatau (guitarrista da banda Cidadão Instigado) e com o André Abujamra também.
Em termos de show: sonho em fazer algo com o Tom Zé, que é um herói pra mim.
Ano passado tive a alegria de cantar com o gênio Jards Macalé. O próximo que
sonho é o Tom Zé.
Por que o codinome O Mascate?
Era um apelido que eu tinha na fase do rock, por volta dos 15 anos. Eu
tocava bateria em uma banda em Senador Canedo, chamada Nóia Catódica e, como
meus pais eram comerciantes, meus colegas me apelidaram de Mascate. Esse
apelido ficou restrito àquele círculo de amizades. Depois, muitos anos depois,
quando eu já estava cursando História na UFG, vim a perceber a importância
cultural dos mascates na história brasileira, pois eles, quando viajavam,
levando seus produtos, acabavam fazendo intercâmbios e até levando notícias em
épocas nas quais os meios de comunicação não eram tão desenvolvidos e não
chegavam em todas as regiões da nação. A parti daí, decidi reavivar aquele meu
apelido da adolescência como um arquétipo, uma metáfora para o trabalho de
intersecções que realizo na música aqui. Agora estou finalizando meu novo disco
que vai se chamar: “Mascate – Aos Trancos e Barrancos”.
Texto que o PIO VARGAS escreveu para a orelha do livro "COISA INCOESA" (1993)
de Edival Lourenço
(ao falar da poesia do amigo Pio acabava falando muito da sua visão de poesia):
O SIGNO POR DESÍGNIO
* por Pio Vargas
"Aos que
tentar dar à função poética o falso entendimento de que poesia precisa dizer
alguma coisa, Stefan Mallarmé foi enfático: “poesia não são idéias, são
palavras”. Um outro grande artista francês, Flaubert, sustenta que ‘estilo’
nada mais é que o modo de ver muito particular de cada esteta. Nesse caso, e
considerando a propriedade com que Mallarmé e Flaubert falam de arte, diluem-se
as tentativas rasteiras e fáceis de extrair da poesia um certo significado
nominal, como se a ela fosse dado o dever de dizer o óbvio. Ao contrário, a
poesia é exatamente a arte de desmascará-lo e, como já dizia um certo crítico
que minha memória deixa em débito, o poeta só diz algo quando não quer dizer
nada. A súmula do que se diz simulado.
Em Edival
Lourenço predomina o signo, não o significado; a imagética, não a imagem; ou,
pra ser sonoro e simplesmente: o fonema como fenômeno. Chego a verificar,
inclusive, seu verdadeiro descaso para com o discurso, a insigne fuga,
sobremodo para dentro de si mesmo, talhando antes cada detalhe, conversando com
o verso e o construindo seguro e firme, certo de que a parte vale mais que o
todo e que a haste é que tolera o toldo. Nele (o poeta) há nada a estorvar a
estrofe, facilitando a degustação (e não entendimento, como se pensa
erradamente). Por mais ininteligível, seu verso é sempre digestivo, saboroso e protogínico,
tomando aqui a poesia como fonte alimentícia.
Cada
construção tem sua vida própria, não ficando a exigir que haja sempre um
próximo verso a dar-lhe fôlego, ou que o poema se explique por inteiro, o que
seria falso, porquanto duvidoso, já que a verdade tem minúcias muito
particulares.
Em Edival,
o vício é realmente o verso, o inverso do que se pensa do ofício. E sua lavra
livra-se de todas as amarras poéticas, oferecendo mil faces num só texto, pois
o poema é o singular ousando-se em plural."
"O artista contemporâneo não fica numa torre separada do mundo ele tem que tá inserido, fazendo outras coisas. E é a partir daí que ele vai recebendo informações e vai compondo seu outro trabalho. Então é fundamental que ele esteja ativo. Acho que o artista não se isola, não. Ele tá ativo, trabalhando".