Ultravespa + Diego e O Sindicato
+ Dj's Gloom
entrada: R$ 15
às 22h
no El Club ( http://elclub.com.br/ )
Alô? Seu Antônio? Como o senhor tá?
Aqui eu vou “empurrando” (como o senhor diz... não rola de ir “levando”, né?). Tô ligando pra saber notícias daí, de vocês. Fiquei muito preocupado ao ver no jornal que aí no Rio a coisa tá, literalmente, pegando fogo! Me preocupei, pois lembrei da dona Rita acordando às 5 da matina, pra evitar congestionamento no ônibus, a caminho do trabalho.
E essa violência por causa da “pacificação”... esses incêndios todos... será que é, realmente, uma situação temporária, de transição? E os inocentes, vítimas desse cenário de guerra, que não aparecem na mídia? Será que esse terror é apenas temor dos traficantes perdendo o poder; ou é só o Estado afirmando seu “monopólio da violência”? Se, antes, o senhor já não gostava de sair de casa... imagina agora, nesse momento de pânico nas ruas... o senhor deve estar pensando: “Ih, caramba!” Torço pra que esta situação, caótica, se resolva ou amenize, logo. Como canta Jorge Ben naquela canção: “eu vou torcer pela paz, pela alegria, pelo amor, pelas moças bonitas eu vou torcer, eu vou”. Assim como também fico aqui torcendo pra que o senhor ganhe na loteria, com aquele mesmo jogo (a sua “poupança”) que o senhor joga desde 1985.
O senhor, que é avô do meu amigo Erick, me recebeu muito bem nas férias de julho, quando estive aí em Belford Roxo (a comunidade com mais igrejas no Brasil!). Aliás, além de mim, também recebeu meus amigos, Thiagão e Nathália, mais a minha namorada, Camila. E nos tratou como se fôssemos seus netos. Lembro do senhor acordando às 5 pra fazer o café pra gente. Também lembro de quando chegávamos, à noite, da faculdade; e o senhor mais a dona Rita nos esperava pra janta, jogando baralho. “Não precisavam se incomodar”, dizíamos; mas fizeram questão de tratar-nos bem, com alegria, com seus sorrisos espontâneos, verdadeiros. Eu nem sei como agradecer! Não esqueço o que o senhor disse pro Thiagão: “se é amigo do meu neto... então também é meu amigo”. Não sei quem foi que disse que os nossos amigos formam a família que podemos escolher. Pra mim, é uma grande honra ser seu amigo!
E a dona Rita? Como vai? Ela é um exemplo de uma mulher guerreira! Vou mandar, pelo correio, umas caricaturas pra coleção de charges do Chico Caruso, que ela faz dos recortes de jornal. Não me esqueço dela colocando na vitrola os vinis do grande Paulo Sérgio. Vocês dois formam o casal mais lindo que já vi, viu? Não me esqueço daquele peixe que o senhor preparou pra gente. Não me esqueço das prosas, das suas piadas e do seu jeito único de contar histórias. Sem dúvida, a melhor parte desta viagem foi a das nossas prosas, seu Antônio.
Quando estive aí, em julho, foi por causa de um congresso da faculdade e pra recolher documentos da minha pesquisa, sobre um filósofo brasileiro, o Álvaro Vieira Pinto. Para este pensador o diálogo é condição existencial da realidade humana, que dele precisa pra se fazer a si mesma, e de exercê-lo no âmbito comunitário, com interlocutores reais e sobre temas objetivos. Vieira Pinto dizia que o homem não existe sem a comunicação que constitui pra a sua consciência meio indispensável à compreensão da objetividade. E ainda completava que só no âmbito da comunicação existencial é que a prática se torna fundamento da verdade, pois não é na experiência pessoal isolada, mas na experiência enquanto compartilhada com outro, que se estatui o vínculo de conhecimento entre o pensar e o ser.
Desta forma, aprendemos mais na casa do senhor, dialogando, ouvindo sobre sua experiência de vida, com seu exemplo de humanidade, com seu bom humor pra enfrentar as adversidades da vida; do que com a burocracia dos procedimentos acadêmicos. A sua residência foi um espaço muito mais instrutivo, e instigante, do que o congresso universitário. Bem que o Erick diz: “meu único ídolo é o meu avô”. Preciso dizer pra ele: “seu avô é um grande professor... e um pensador!”
Estamos esperando o senhor aqui, pro senhor conhecer seu neto John – meu afilhado. Ele tá lindão e mês que vem já faz 2 anos. Logo, logo, vai estar abalando o coração da mulherada! Eu, o Erick e o Thiagão estamos te esperando aqui, pra jogarmos um baralho, tomarmos umas brejas (ou “lambermos uma gelada”, como o senhor diz) e rirmos da vida. E torço pra que o Rio de Janeiro continue lindo, indo... rindo!
Opa! Meu cartão tá acabando. Fica com Deus também... Aquele abraço!
(publicado no jornal Diário da Manhã)
Sei que hoje eu deveria falar sobre “Sir McCartney no Brasil”. Mas decidi falar de Lennon, posso? Alguns dos meus amigos hoje, ou amanhã, estarão lá na fila para ver o Sir Paul. Estive a um passo de estar nesse show. Tudo bem, sem ressentimento. Verei o show do conforto da minha sala, comendo pipoca com guaraná. “Ah, mas estar lá será uma experiência mágica, única, na vida, de ver um beatle (ao) vivo”, me cutucam. Me confortarei dizendo para os meus netos que vi os Stones em Copacabana. “Ah... mas os Beatles são maiores os Stones”, me diz um chato de galocha. Ok... Chega! Entendi! Tá bom, sei que vou amargar pelos restos dos meus dias aqui na Terra por não estar lá.
Mas, convenhamos, apesar de achar lindo a multidão sintonizada na idéia de “All you need is love”, sei (aqui na minha realidade concreta e individual, determinada socialmente) que, nesse nosso “mundo imundo”: “All you need is money” (Zappa sempre está certo, meu caro!). Então, mesmo contra a minha vontade mais profunda, preciso manter os pés no chão. Por isso preferi não comprometer financeiramente meu fim de ano com um feitichismo beatlemaníaco. Sem falar que estou em um momento da minha vida em que preciso me concentrar na minha dissertação – e escrever dói. Então, prefiro fazer minha terapia ocupacional, escrevendo nesse espaço minha declaração de amor ao John. Quem sabe assim, eu consiga viver essa semana com mais tranquilidade, diminuir a probabilidade de um câncer, concentrar em minha dissertação e economizar minhas moedinhas – já que sou apenas um “working class crazy”.
Li uma matéria dizendo que Paul cantará “Here Today”, canção de amor ele que fez para John. Além de ser uma homenagem póstuma, é uma trégua nas brigas musicais dos dois gênios. Lembremos que, na época do ressentimento de Lennon, nos anos 70, ele escreveu, para McCartney, na polêmica “How do you sleep?” : “The only thing you done was Yesterday”( A única coisa que você fez foi Yesterday). Tretas,tretas, tretas...
Uma vez uma amiga me deu um cd, com com a discografia do Paul, escrito: “Mais que um inglesinho”. Foi aí que conheci o lindo disco “RAM” , da carreira solo do Sir. Concordo que, tecnicamente, o Paul é melhor, compôs melodias mais sofisticadas, consegue cantar e tocar aquele baixo monstruoso. Mas foi o John que, lançou a frase “The Dream is over”, foi o subversivo pacificista John que “imaginou um mundo sem países e religiões”. John conseguiu, em sua carreira solo, se desvincular esteticamente mais dos Beatles do que o Paul. John assumiu o ofício de ser “o palhaço do mundo” (como ele mesmo disse). E acho que o valor de um artista está mais nas provocações, nas questões que ele lança no ar, do que em suas virtudes técnicas, apenas. Por vários motivos, que não cabem nessa coluna, meu beatle favorito é o John. Por exemplo, quando eu soube a tradução da violenta “Working Class Hero”, deu um nó na minha cabeça e pensei: “É isso! O cara cuspindo no 'sistema', dentro do próprio 'sistema'”. Me arrepia da confessional “Mother” à singela “Love”. É por essas e outras que “sou mais” John. Mas “sou mais” Beatles.
No fundo prefiro Lennon/ McCartney!
"Há várias formas de fazer música brasileira. Eu prefiro todas!" (Gilberto Gil)
No próximo domingo [amanhã] Gil tocará com a banda cuiabana Macaco Bong, em Goiânia. Estamos na expectativa de assistir esse encontro de duas perspectivas fundamentais da “linha divertida da música popular brasileira”: a Tropicália e o circuito independente. Futurível!
Para falar dessa expectativa eu precisaria gaguejar, procurar uma palavra inexata, tentar definir o indefinível, tal como as entrevistas poéticas de Gil. Meu amigo Kleuber me diz aqui: “Falar do Gil é complexo, senão usar as palavras que ele inventa”. Agora, imagina, falar do Gil e do Macaco Bong no mesmo texto... Não dou conta.
Macaco Bong é uma das bandas mais representativas da cena da música independente. Me lembro quando alguns integrantes do Macaco dormiram no sobrado que eu dividia com o Roberteira mais o Chelo (meu parceiro do Waldi & Redson e atual baixista do Porcas Borboletas), durante a gravação do cd “Artista Igual a Pedreiro”, no estúdio Rocklab, do mestre Gustavo Vasquez. Naquele momento de descontração (e concentração, deles) não podíamos imaginar que estava surgindo o cd a ser eleito o melhor álbum de 2008, pela revista Rolling Stone. Foi uma grande surpresa ver meus conterrâneos reconhecidos nacionalmente por apontarem um outro caminho na música. Um marco, pois este álbum, instrumental, sem uma frase, disse muito. Disse muito da filosofia do Circuito Fora do Eixo. Nunca vi o título de um disco gerar tanta polêmica, tanta discussão e reflexão sobre os novos rumos tomados pela música no Brasil e no mundo: na era da internet e da ascenção dos festivais independentes.
Já Gil vem de outra era de festivais (como foi bem documentado no filme “Uma noite em 67”), onde e quando eclodiu a Tropicália, que já era um grande encontro de perspectivas: a bossa e o rock, o popular e o erudito, o pop e a vanguarda, a velha e a jovem guarda. A canção Domingo no Parque, imagética, rica harmonicamente, já era uma síntese musical que unia os arranjos do maestro Rogério Duprat, o baião e o rock. Nas entrevistas, Gil, com sua ótica naturalmente visionária, enaltecia os Mutantes; que vinham na contramão da música popular de festival competitivo.
Refazendo a própria história, o grande artista supera o movimento, por estar em permanente movimentação. O Gil, depois da ebulição tropicalista de 68, fez coisas até mais interessantes, canções ainda mais fortes em discos emblemáticos, como a trilogia do “Re”: Refazenda, Refavela e Realce. Gil é um arquiteto de sons, mestre da palavra cantada. Por exemplo nesse verso: “Abacateiro acataremos teu ato, nós também somos do mato como o pato e o leão”. A aliteração, a poesia, o ritmo da frase, a musicalidade está toda nesse verso.
No youtube encontrei um documentário filmado em 1975, durante a gravação do disco Refazenda, onde Gil diz: “Enquanto o tempo não trouxer teu abacate, anoitecerá tomate e amanhecerá mamão. Essas coisas todas... Refazenda é tudo, é o meu trabalho, sou eu refazendo... tudo... andando de ré”. E “com fé”, né?
Estou muito curioso para ouvir o resultado desse encontro. Além de ser o encontro de dois ícones de diferentes “eras dos festivais”, também é o encontro da música negra no Brasil. Além disso, também é o encontro entre a palavra cantada e o som da banda sem letra, que diz. “Dentro do porta-luva, tem a luva, tem a luva”... “onde se faz caber o incabível”.
Gil cantou, em outra ocasião, a composição do Riachão: “Cada macaco no seu galho”. E no próximo domingo poderemos assistir o encontro dos "macacos e o buda" (termo de Alex Antunes), embaixo da sombra da mesma árvore...
Domingo no Campus... um passeio no parque...
Refazendo tudo.
O Compacto vai terminar sua primeira temporada com um evento especial: o Palco Compacto, no Goiânia Noise, um dos festivais mais importantes da nova música brasileira. No dia 17, quarta-feira, o Centro Cultural Martim Cererê vai receber encontros musicais tão especiais quanto o programas do videocast, só que dessa vez com a energia do público ao vivo. A entrada é gratuita.
Quatro artistas que já passaram pelo Compacto vão participar do show: John Ulhoa, do Pato Fu, Móveis Coloniais de Acaju, Macaco Bong e Vítor Araújo. Os gaúchos do Superguidis, que estarão no penúltimo episódio do videocast, também tocam no evento, com participação do produtor Felipe Seabra.
Outras novas apostas da música brasileira também passam pelo Palco Compacto: os goianos do Gloom e Diego Moraes e o Sindicato, os mineiros do Porcas Borboletas e os brasilienses Lucy and the Popsonics. Veja mais informações sobre os artistas e o festival no site do Goiânia Noise.
O registro do Palco Compacto vai fazer parte do episódio especial de encerramento do videocast, exibido em dezembro. Aguardem!
Para colocar na agenda
Palco Compacto Petrobras no Festival Goiânia Noise
Centro Cultural Martim Cererê – Rua 94A – Area Interna – Setor Sul, 74083-070 – Goiânia
17/11 – quarta-feira
Entrada Gratuita
Esses dias pra trás, vinha eu no Eixão, com foninho, apressado e preocupado se chegaria a tempo ao meu destino. Todo homem precisa traçar um destino – senão na vida, pelo menos no dia. Pode não saber o que será de si no ano que vem, mas precisa definir o que fazer quando acorda, estamos de acordo? Então. Lá ia eu, obrigado a resolver minhas obrigações, tentando distrair meu stress ao ouvir uma musiquinha.
Na altura da praça da Bíblia, entra um senhor de expressão tranqüila, gola pólo, com uma sanfona. Senta-se num daqueles bancos vermelhos e fica assuntando o movimento do ônibus e da rua. Também gosto de ficar olhando a paisagem passar; é sempre uma metáfora da vida. Depois de alguns pontos, o senhor da sanfona começa a sua sinfonia.
Tirei meu foninho do ouvido e comecei a escutar a música acontecendo ali, misturada ao som da cidade. O senhor, serenamente, tocava seu xote, trazendo um tanto de alegria para aquele meu dia cinzento. Bem ali, no meio da sanfona do Eixão, eu escutava aquela sinfonia popular.
“Arreparei” (como diz vóvó) que era excessivo o número de pessoas com foninho no ouvido. Cada qual no seu mundinho, tentando distrair seu stress, que nem eu. Cada um na sua incomunicabilidade, pensando na sua própria vida. Pensei “cá com meus botões” (como diz mamãe):
– Aquele rapaz ali deve estar escutando alguma bandinha do momento; que, no momento, desconheço. Aquela moça deve estar escutando algum sucesso do “sertanejo universitário”, que não quero conhecer. Aquele outro senhor deve estar escutando um som do bom. Aquela tia ali deve estar escutando algum recorde de vendas da música gospel atual. Nunca saberei ao certo. Enfim, cada um no seu universo particular.
Enquanto isso, o maestro da sanfona lá, prosseguia em sua sina de representante da “cultura popular” (desconhecida por boa parte do povo). Me encantava as cadências melódicas e a esperteza dos dedos do senhor que seguia, despreocupado, com toda a vida moribunda ao redor, tocando a vida adiante. “Arreparei”, também, que um outro senhor dedicava atenção à musicalidade do sanfoneiro, sorria com o canto da boca e batia o pé, acompanhando o ritmo. Talvez ele se emocionasse se lembrando do seu passado; enquanto eu observava (e absorvia) o presente e pensava se no futuro eu serei um sanfoneiro do Eixo Anhanguera (esse “Eixo Diabo Velho”, que é o mundo).
O senhor-sanfoneiro desceu, carregando sua sanfona com um adesivo de Jesus Cristo, e uma sacola de cd’s – deviam ser cd’s dele. Achei que ele passaria com uma sacolinha pedindo uma contribuição para o folclore nacional. Mas não. Ele desceu e eu pensei “cá com meus botões” travêis:
– Qual o nome daquele senhor-sanfoneiro? Qual sua trajetória, além do Eixão?
Pra mim, permaneceu sendo um homem sem nome. Um artista fora da internet, tocando a música, e a vida, em frente, no meio da multidão.
(publicado no jornal Diário da Manhã, de hoje)
"O emo (fenômeno social "dado") passa balançando seu dadinho de pelúcia. O indie, com sua cara de bunda, escuta, no seu foninho/mundinho, qualquer coisa que a gente desconhece, pra se afastar o máximo possível da "realidade decadente". O raulseixista, com camisa do Pink Floyd, toma pingorante e pensa o quanto o passado (antes dele nascer) era melhor. Os três caras se encaram. O emotivo se esquiva com o olhar. O indie-ota com seu olhar superior, por cima do óculos. O raul-chiita dá outro gole na catuaba-com-coca e arrota. Logo, não há diálogo..."